Regressa aos discos a solo Kris Davis – o anterior nesse registo, “Aeriol Piano”, era de 2011 – e, por uma vez,
o que se nota é a mecanização de certos recursos. O que só confirma que nem
mesmo os mais singulares pianistas são desprovidos de maneirismos. Talvez daí
resulte uma afinidade com Monk, neste “Massive Threads” revisitado através de ‘Evidence’,
embora a canadiana o agarre como uma decoradora desinteressada em combinar
materiais ou sequer a adaptá-los aos espaços a que se destinam. O ritual
minimalista de ‘Ten Exorcists’, o romântico fraseado de ‘Desolation and
Despair’ ou os espasmos rapsódicos de ‘Intermission Music’ comungam do
evangelho pós-modernista mas o mais excitante que possuem é o humor que nos
seus títulos se subentende. Há nisto uma qualidade preambular que reduz o
escopo da operação. Derradeira peça: ‘Slow Growing’. Aproveitando a deixa, já a
reincidência no trabalho com o trio de “Good Citizen” (Fresh Sound New Talent,
2010) se revela de maior interesse histórico, conquanto ampare uma forma
interpessoal de afirmação de personalidade e se arrisque a figurar no blog
“Shut The Fuck Up, Parents” (quem comprar o CD há de perceber). Mas é sedutor o
seu triângulo de estilos: John Hébert continuamente relaxado, Tom Rainey com
uma ousadia absolutamente idiossincrática, Davis de uma teatralidade quase
arquitetural. As fórmulas conduzem ao fracasso – ao sucesso, também.
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