1 de junho de 2013

Dave Douglas Quintet “Time Travel” (Greenleaf, 2013)



Na receção crítica à produção de Dave Douglas privilegiam-se habitualmente aspetos concetuais face aos contextuais. E este álbum, que assinala um duplo aniversário do seu criador – trigésimo de discografia e quinquagésimo de vida –, emerge como um paradigma dessa crucial ambivalência. Porque, quando Douglas, no livreto desta edição, se refere a “The New Time Travelers”, um ensaio de David Toomey publicado em 2007, está a evocar dois postulados – o dos factos temporalmente estáticos e o dos factos temporalmente dinâmicos – que podem ser, também, modelos de apreciação artística. O que é o mesmo que dizer: se passado, presente e futuro são imanências da realidade, entende-se “Time Travel” como a mais recente etapa num contínuo inquérito à história do jazz moderno iniciado há três décadas; mas se forem uma pura ilusão da consciência, este disco não é mais do que um objeto proveniente da transitória intuição de um prodigioso quinteto constituído ainda por Jon Irabagon, Matt Mitchell, Linda Oh e Rudy Royston. Ora a arte é, argumentar-se-á, o único domínio em que as duas teorias não se excluem mutuamente. Atente-se a ‘Bridge to Nowhere’: o seu motivo coral excentricamente semitonado, numa composição harmonicamente dominada por acordes aumentados, lembra tanto Monk que a meio da peça Irabagon toca ‘Epistrophy’. E veja-se o caso de ‘Beware of Doug’, que mantém em segundo plano a ‘Dixie’ da Guerra da Secessão sem assumir jamais a forma da marcha folclórica, ou de uma ‘Little Feet’, marcada por uma fascinante inquietação rítmica apesar de provir do acalanto de ‘Hush, Little Baby’. Trata-se de uma graciosa e tátil formulação que pressupõe uma engenhosa e deliberada construção mas cujo desenvolvimento depende de algo mais elusivo: da noção de que, neste particular, não obstante sabermos menos sobre um do que sobre o outro, o futuro é tão real quanto o passado.

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