Ciclicamente,
desde que há 30 anos falhou um assalto aos mercados internacionais através da
Virgin, retorna a Super Mazembe aos escaparates. Desta feita, num dispositivo
distinto daqueloutro utilizado pela Earthworks em 2001, quando, com “Giants of
East Africa”, antologiou exclusivamente temas extraídos a álbuns de inícios dos
anos 80 da expatriada banda congolesa, revelando-se na altura, talvez
inadvertidamente, uma produção mais eclética do que aquilo que na realidade
foi. Já esta coleção, que, como o nome indica, filtra as suas obscuras edições
em single, coligindo oito entre os 42
publicados sob a égide das Editions Mazembe, sublinha uma inabalável
consistência num fascinante capítulo da história da música moderna na África
Oriental. De facto, a par dos muitos grupos aí criados por compatriotas seus, como
Baba Gaston, Shango Lola, Moreno, Jimmy Monimambo ou Samba Mapangala, esta extática
orquestra fundada por Mutonkole Longwa em Likasi, então Zaire, formulou uma
extraordinária reconstituição da rumba cantada em lingala em países – Uganda,
Tanzânia, Quénia – onde o idioma não era a língua franca que se provava ser na
África Ocidental. E este retrato – que se esquiva ao mosaico ontológico que o recente
“Kenya Special” tentou promover – contenta-se em reforçar as características
matriciais de uma milagrosa estética composta por melífluas harmonias vocais,
solos de guitarras elétricas em contraponto, abruptas mudanças de compasso,
inspiradas construções rítmicas – como a do cavacha
– e, acima de tudo, quiçá influenciada pela jactância do benga local, imbuída da tentação de fazer cada canção descarrilar
antes de chegar ao destino. Este foi o som de uma diletante Nairobi a abraçar o
pan-africanismo e a resistir ao exotismo turístico, que durou até o presidente Daniel
arap Moi decidir acabar com a festa. Que ela recomece.
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