22 de junho de 2013

Jon Irabagon, Hernâni Faustino, Gabriel Ferrandini “Absolut Zero” (Not Two, 2013)



Tomando por certo um lapso tipográfico na palavra absolute, será no mínimo tentador sugerir que, à primeira vista, a aproximação de Jon Irabagon a dois terços do RED Trio contraria, de facto, essa noção de ‘zero absoluto’. Mas, ainda que se referindo à temperatura de menor valor entrópico – numa inversão simbólica da mais comum alegoria na ‘improvisação livre’ -, não será inapropriado, no âmbito desta ação, relembrar o que a mecânica quântica apelida de ‘estado fundamental’ ou, no limite, o que promulga a Terceira Lei da Termodinâmica. Isto é, o extremo agora invocado entende-se enquanto um ponto de partida para a identificação da substância transformável e, quiçá, para a ilustração metafórica de um princípio de ‘maximização’ que, também no universo, se considera espontâneo. Trata-se de um impulso conceptual para a compreensão daquilo que, muitas vezes neste contexto, está sujeito aos imponderáveis que derivam da negociação de sensibilidades. E, nessa medida, a receção a estes sete temas gravados em Lisboa a 19 de outubro de 2009 prova-se influenciada por qualificativos retirados à física, à astronomia ou à geologia. Fala-se aqui – em ‘Crust’, ‘States of Matter’, ‘Nova’ ou ‘Parallax’ – de crostas planetárias, nas fases da matéria, na cataclísmica explosão das estrelas, na posição dos objetos celestes, no espaço-tempo, enumeram-se parâmetros de variação sistémica e promovem-se alusões ao estudo da relatividade. Pode não ser mais do que uma adenda ou um resíduo de importância paratextual, mas à luz destes significados aceita-se a ocasional saturação motívica em Faustino, a obsequiosa mimese de Ferrandini e a autonomia discursiva de Irabagon. Ou melhor, apesar dessas tendências, por aí se percebe que há sempre quem na música saiba para onde vá mesmo quando não parece haver caminho a seguir. Nunca foi outra a ‘arte do trio’, e este sabe-o bem.

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