Tomando
por certo um lapso tipográfico na palavra absolute,
será no mínimo tentador sugerir que, à primeira vista, a aproximação de Jon
Irabagon a dois terços do RED Trio contraria, de facto, essa noção de ‘zero
absoluto’. Mas, ainda que se referindo à temperatura de menor valor entrópico –
numa inversão simbólica da mais comum alegoria na ‘improvisação livre’ -, não
será inapropriado, no âmbito desta ação, relembrar o que a mecânica quântica
apelida de ‘estado fundamental’ ou, no limite, o que promulga a Terceira Lei da
Termodinâmica. Isto é, o extremo agora invocado entende-se enquanto um ponto de
partida para a identificação da substância transformável e, quiçá, para a
ilustração metafórica de um princípio de ‘maximização’ que, também no universo,
se considera espontâneo. Trata-se de um impulso conceptual para a compreensão
daquilo que, muitas vezes neste contexto, está sujeito aos imponderáveis que
derivam da negociação de sensibilidades. E, nessa medida, a receção a estes sete
temas gravados em Lisboa a 19 de outubro de 2009 prova-se influenciada por
qualificativos retirados à física, à astronomia ou à geologia. Fala-se aqui –
em ‘Crust’, ‘States of Matter’, ‘Nova’ ou ‘Parallax’ – de crostas planetárias,
nas fases da matéria, na cataclísmica explosão das estrelas, na posição dos
objetos celestes, no espaço-tempo, enumeram-se parâmetros de variação sistémica
e promovem-se alusões ao estudo da relatividade. Pode não ser mais do que uma
adenda ou um resíduo de importância paratextual, mas à luz destes significados aceita-se
a ocasional saturação motívica em Faustino, a obsequiosa mimese de Ferrandini e
a autonomia discursiva de Irabagon. Ou melhor, apesar dessas tendências, por aí
se percebe que há sempre quem na música saiba para onde vá mesmo quando não parece
haver caminho a seguir. Nunca foi outra a ‘arte do trio’, e este sabe-o bem.
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