Carolin Widmann (vl),
Frankfurt Radio
Symphony Orchestra, Emilio Pomàrico (d)
Em
virtude de promover uma invulgar gestão do espaço – que contrariava a cinética fundamental
ao minimalismo norte-americano – e de acentuar uma suspensiva relação com o
tempo, recorrem-se às mais sugestivas metáforas para apresentar a música de
Morton Feldman (1926-1987). Fala-se das suas peças – quiçá pela recordação do prelúdio
que Debussy publicou como “La Cathédrale Engloutie” – como se fala das
profundezas de um mar gelado. Ou, sabendo-se da sua amizade por Pollock,
Kooning ou Guston, relembra-se amiúde uma afinidade com os princípios do
expressionismo abstrato, designadamente com aspetos não-figurativos, de uma
pureza estética e enfaticamente tecidual, ocasionalmente caligráficos ou
formulados sob misteriosos padrões, nesse contexto melhor traduzidos pelos ‘campos
de cor’ de Rothko, Motherwell e Stella, essencialmente monocromáticos ou de um
geometricismo subjetivo. E, não ignorando o fascínio que despertavam no
compositor os tapetes da península anatoliana – que, por sinal, colecionava –,
é comum estabelecer-se um paralelismo entre obras suas e a tecelagem turca: sublinha-se
a singularidade de cada filamento e ponto, a variabilidade de volume, cor, textura
e extensão na sua combinação estrutural, a iminente descontinuidade oculta na
sua modular coesão, noções de simetria, repetição e escala, mas também efeitos
abrasivos nisso tudo. “Violin and Orchestra” (1979) evoca tal comparação, mas
reforça ainda duas questões: que para ela se deve olhar como, através da
paralaxe, os astrónomos observam as estrelas, e que a espessura do seu silêncio
pode mascarar uma tumultuosa perturbação nos sentidos. É o que sai claramente promulgado
por Pomàrico, numa peculiar relativização daquilo que se conhece de Feldman,
aqui tenso, perverso e violento como raramente foi.
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