29 de junho de 2013

Feldman: Violin and Orchestra (ECM, 2013)





Carolin Widmann (vl), Frankfurt Radio Symphony Orchestra, Emilio Pomàrico (d)

Em virtude de promover uma invulgar gestão do espaço – que contrariava a cinética fundamental ao minimalismo norte-americano – e de acentuar uma suspensiva relação com o tempo, recorrem-se às mais sugestivas metáforas para apresentar a música de Morton Feldman (1926-1987). Fala-se das suas peças – quiçá pela recordação do prelúdio que Debussy publicou como “La Cathédrale Engloutie” – como se fala das profundezas de um mar gelado. Ou, sabendo-se da sua amizade por Pollock, Kooning ou Guston, relembra-se amiúde uma afinidade com os princípios do expressionismo abstrato, designadamente com aspetos não-figurativos, de uma pureza estética e enfaticamente tecidual, ocasionalmente caligráficos ou formulados sob misteriosos padrões, nesse contexto melhor traduzidos pelos ‘campos de cor’ de Rothko, Motherwell e Stella, essencialmente monocromáticos ou de um geometricismo subjetivo. E, não ignorando o fascínio que despertavam no compositor os tapetes da península anatoliana – que, por sinal, colecionava –, é comum estabelecer-se um paralelismo entre obras suas e a tecelagem turca: sublinha-se a singularidade de cada filamento e ponto, a variabilidade de volume, cor, textura e extensão na sua combinação estrutural, a iminente descontinuidade oculta na sua modular coesão, noções de simetria, repetição e escala, mas também efeitos abrasivos nisso tudo. “Violin and Orchestra” (1979) evoca tal comparação, mas reforça ainda duas questões: que para ela se deve olhar como, através da paralaxe, os astrónomos observam as estrelas, e que a espessura do seu silêncio pode mascarar uma tumultuosa perturbação nos sentidos. É o que sai claramente promulgado por Pomàrico, numa peculiar relativização daquilo que se conhece de Feldman, aqui tenso, perverso e violento como raramente foi.

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