Solistas na Orquestra Sinfónica
Simón Bolívar, porventura a mais visível organização com origem no ‘El Sistema’
– o modelo de administração da formação musical junto de comunidades
carenciadas na Venezuela cuja pedagogia se espalhou pelo mundo e de que a
Orquestra Geração é uma ramificação nacional –, Alejandro Carreño, Boris Suárez,
Ismel Campos e Aimon Mata propõem na sua estreia em disco um programa de
extraordinária valência, habilmente convertido num intrigante, inesperado e
inclusivo manifesto de civismo e participação social. De facto, outra coisa não
promulga a reunião destas três obras. Porque já a inicial, o vertiginoso “Quarteto de Cordas Nº1”, em 1948 composto pelo
argentino Alberto Ginastera (1916-1983), promovia tanto daquilo que interessará
agora ao agremiado venezuelano: decantar aspetos cruciais de uma identidade
regional através de descomprometidas bissetrizes – entre melopeias do folclore
andino, despicadas toadas dos violeiros das pampas, formas crioulas urbanas, etc
– que, por sua vez, se colocam ao serviço de uma vívida compreensão do
modernismo global. Tal impulso terá precedente na peça que se lhe segue, o pioneiro
“Quarteto Americano” de Antonín Dvorák (1841-1904) – o nº12, em Fá maior, escrito
em 1893 num lugarejo do Iowa – que, numa linhagem tutelada por Smetana, vaporizava
espirituais negros e, em certas opções de escala e ritmo, os mais rudimentares
modalismos rurais numa extasiada expressão aqui perfeitamente ilustrada.
Irrompendo pelo alinhamento com contornos praticamente caucionários surge o
críptico “Quarteto de Cordas Nº8 em Dó menor” de Dmitri Shostakovich
(1906-1975), lembrando que o amor à pátria ocultou frequentemente propósitos
totalitários mas, nesta interpretação, poupado ao grotesco e funâmbulo retrato
psicológico que a seu pretexto quase sempre se traça. Absolutamente arrebatador.
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