22 de junho de 2013

Simón Bolívar String Quartet: Ginastera; Dvorák; Shostakovich (Deutsche Grammophon, 2013)



Solistas na Orquestra Sinfónica Simón Bolívar, porventura a mais visível organização com origem no ‘El Sistema’ – o modelo de administração da formação musical junto de comunidades carenciadas na Venezuela cuja pedagogia se espalhou pelo mundo e de que a Orquestra Geração é uma ramificação nacional –, Alejandro Carreño, Boris Suárez, Ismel Campos e Aimon Mata propõem na sua estreia em disco um programa de extraordinária valência, habilmente convertido num intrigante, inesperado e inclusivo manifesto de civismo e participação social. De facto, outra coisa não promulga a reunião destas três obras. Porque já a inicial, o vertiginoso “Quarteto de Cordas Nº1”, em 1948 composto pelo argentino Alberto Ginastera (1916-1983), promovia tanto daquilo que interessará agora ao agremiado venezuelano: decantar aspetos cruciais de uma identidade regional através de descomprometidas bissetrizes – entre melopeias do folclore andino, despicadas toadas dos violeiros das pampas, formas crioulas urbanas, etc – que, por sua vez, se colocam ao serviço de uma vívida compreensão do modernismo global. Tal impulso terá precedente na peça que se lhe segue, o pioneiro “Quarteto Americano” de Antonín Dvorák (1841-1904) – o nº12, em Fá maior, escrito em 1893 num lugarejo do Iowa – que, numa linhagem tutelada por Smetana, vaporizava espirituais negros e, em certas opções de escala e ritmo, os mais rudimentares modalismos rurais numa extasiada expressão aqui perfeitamente ilustrada. Irrompendo pelo alinhamento com contornos praticamente caucionários surge o críptico “Quarteto de Cordas Nº8 em Dó menor” de Dmitri Shostakovich (1906-1975), lembrando que o amor à pátria ocultou frequentemente propósitos totalitários mas, nesta interpretação, poupado ao grotesco e funâmbulo retrato psicológico que a seu pretexto quase sempre se traça. Absolutamente arrebatador.

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