8 de junho de 2013

Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou “The Skeletal Essences Of Afro Funk 1969-1980” (Analog Africa, 2013)



Este terceiro volume que Samy Ben Redjeb consagra à Poly-Rythmo através da sua Analog Africa funciona tanto como uma homenagem à memória de Mélomé Clément – fundador do grupo, falecido em dezembro último – quanto como um referencial para a década de extasiada arquivologia em torno da discografia da orquestra beninense, cumprida desde que em 2003 a P.A.M. lançou “Reminiscin' in Tempo”. De facto, a presente compilação é a mais fiel exposição em disco daquela heteróclita polimatia rítmica patenteada por Clément ao lado de Loko Pierre, Vincent Ahehehinnou, Lohento Eskill, Léopold Yehouessi ou Bernard ‘Papillon’ Zoundegnon, a que se aludiu apenas num já esgotado “Kings of Benin Urban Groove” (Soundway, 2004), e da qual o próprio Redjeb jamais se acercou nos introdutórios “The Vodoun Effect” (2008) e “Echos Hypnotiques” (2009). No entanto, foi exatamente pela sua evangélica ação que – a par da experiência de Bembeya Jazz, Tom Zé, Orchestra Baobab, Boubacar Traoré, Mulatu Astatke ou dos cubanos do clube Buena Vista – também a Poly-Rythmo ilustrou o extravagante versículo de Mateus (o de “ressuscitai os mortos…”) voltando, em 2011, efetivamente ao mundo dos vivos com “Cotonou Club” (Strut), e daí até aos palcos globais, personificando, na música, uma espécie de síndrome de São Lázaro capaz de reanimar mesmo as mais desgraçadas carreiras. É por aqui, pela justaposição das sincopadas cadências do jerk (leia-se soul e funk), vodu, cavacha, sato, pachanga, sakpata, afrobeat ou da portentosamente designada ‘bossa afro’, que melhor se traduz a ideia de “fluxo e refluxo” que em finais dos anos 60 Pierre Verger aplicava ao tráfico entre o Golfo do Benim e a Baía de Todos-os-Santos; isto é, celebra-se a crónica da redirecção para África de um complexo cultural previamente transmutado e já devida e definitivamente transfigurado. Essencial.

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