15 de junho de 2013

Ellery Eskelin, Susan Alcorn, Michael Formanek “Mirage” (Clean Feed, 2013)



Mal se anunciou “Mirage”, Ellery Eskelin postou a boa-nova no fórum “Sax on the Web”, divulgando o lançamento e aproveitando para testar as funcionalidades da página no que diz respeito à alocação de ficheiros áudio distribuídos pela plataforma SoundCloud. Consuetudinariamente chegaram-lhe mensagens congratulatórias e questionários acerca do processo de gravação, levantando-se uma dúvida referente à captação do baixo. O saxofonista esclareceu o forense e lembrou que, naquela circunstância, partilhava dados no formato MP3, pelo que a qualidade da audição dependeria do equipamento utilizado na sua reprodução. Quando o seu interlocutor confessou estar a escutar através dos altifalantes de um portátil, Eskelin compreendeu o equívoco, desabando: “de certa maneira estamos a regredir com tanta tecnologia”. O episódio ganha pertinência no contexto da apresentação de um disco intitulado miragem; e, numa perspetiva mais oblíqua, revela-se oportuno o seu enquadramento na discussão de um registo – com Eskelin no tenor, Susan Alcorn na guitarra pedal steel e Michael Formanek ao contrabaixo – que contraria a teleológica leitura que no horizonte desponta sempre que dá à costa um trio tão invulgar. Mas a sua evocação é nos dias de hoje eminentemente apropriada pois permite ilustrar uma distinta característica coetânea a esta época de progresso técnico e científico, que é a que determina o abismo entre aquilo que conhecem do mundo a maioria das pessoas e o que sobre a sua disciplina específica sabe cada um. Dito de outra forma: não só expertos num instrumento se mostram incapazes de formular uma análise musical como se receia que a crítica de jazz se prove inábil em louvar o que com o género mantém uma relação vestigial embora não menos transformativa. “Mirage”, uma fissura para o seu âmago, é essa obra-prima.

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