A propósito de
“Efêmera”, o primeiro CD de Tulipa Ruiz, falava-se aqui de uma certa
configuração das coisas feita à medida das ‘redes sociais’. Agora, quase um ano
após o ter partilhado em MP3 através da sua página, chega “Tudo Tanto” numa
antipodal intermediação, incluído na bagagem da cantora, que nos visitou para
uma série de discretos concertos. Já na reta final da inflacionada programação
do “Ano do Brasil em Portugal”, nem a habitual retumbância retórica de Zé
Miguel Wisnik inflamou um redundante recital, nem Joyce Moreno trouxe “Tudo” ou
Ed Motta “AOR”, adaptando-se ambos a um figurino que tornava incaracterística e
perversamente dispensável a apresentação dos seus novos e excelentes álbuns. E,
no entanto, porventura anestesiados por uma euforia em autogénese, passa a
caravana sem que ladrem os cães e nada fica para que se conte a história. Trata-se
de um retrocesso paradoxal. Para mais no momento em que, no Brasil, salta para
as ruas este alvoroço que contesta a disfunção de estruturas que pressupõem
igualdade. É o que se ouve em ‘Joga Arroz’, a insólita reunião de Arnaldo Antunes,
Carlinhos Brown e Marisa Monte, há um mês lançada digitalmente para influenciar
a aprovação da lei do casamento civil igualitário. Em “Tribunal do Feicebuqui”,
também disponibilizado no seu site, Tom Zé indica que este tipo de
participação pode ser manipulado de forma autofágica. E outra alternativa não
haverá para “Eslavosamba”, de Cacá Machado, ou “Passo Elétrico”, dos Passo
Torto, cruciais discos brasileiros deste ano conjuntamente ausentes das lojas
portuguesas. É por isso adequado que, na sua patenteada expressão de princesa-da-pop-a-concluir-tese-de-doutoramento,
venha Tulipa cantar acerca da insensível arbitrariedade do tempo em que
vivemos. Em ‘Script’ relembra: “Devo lhe dizer que a
vida é curta”. Há alturas em que nem se dá por ela.
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