29 de junho de 2013

Tulipa Ruiz “Tudo Tanto” (Pommelo, 2012)



A propósito de “Efêmera”, o primeiro CD de Tulipa Ruiz, falava-se aqui de uma certa configuração das coisas feita à medida das ‘redes sociais’. Agora, quase um ano após o ter partilhado em MP3 através da sua página, chega “Tudo Tanto” numa antipodal intermediação, incluído na bagagem da cantora, que nos visitou para uma série de discretos concertos. Já na reta final da inflacionada programação do “Ano do Brasil em Portugal”, nem a habitual retumbância retórica de Zé Miguel Wisnik inflamou um redundante recital, nem Joyce Moreno trouxe “Tudo” ou Ed Motta “AOR”, adaptando-se ambos a um figurino que tornava incaracterística e perversamente dispensável a apresentação dos seus novos e excelentes álbuns. E, no entanto, porventura anestesiados por uma euforia em autogénese, passa a caravana sem que ladrem os cães e nada fica para que se conte a história. Trata-se de um retrocesso paradoxal. Para mais no momento em que, no Brasil, salta para as ruas este alvoroço que contesta a disfunção de estruturas que pressupõem igualdade. É o que se ouve em ‘Joga Arroz’, a insólita reunião de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, há um mês lançada digitalmente para influenciar a aprovação da lei do casamento civil igualitário. Em “Tribunal do Feicebuqui”, também disponibilizado no seu site, Tom Zé indica que este tipo de participação pode ser manipulado de forma autofágica. E outra alternativa não haverá para “Eslavosamba”, de Cacá Machado, ou “Passo Elétrico”, dos Passo Torto, cruciais discos brasileiros deste ano conjuntamente ausentes das lojas portuguesas. É por isso adequado que, na sua patenteada expressão de princesa-da-pop-a-concluir-tese-de-doutoramento, venha Tulipa cantar acerca da insensível arbitrariedade do tempo em que vivemos. Em ‘Script’ relembra: “Devo lhe dizer que a vida é curta”. Há alturas em que nem se dá por ela.

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