Canta-se em ‘Tajir Waa Ilaah’ acerca
da fraqueza da espécie humana, da impotência em determinarmos o nosso destino,
daquelas ocasiões em que de um dia ao outro tudo se perde. Mal sabia, então, o
casal de vocalistas da Dur-Dur Band que era sobre o seu futuro que falava. Fugindo
de Mogadíscio nos anos 90 em consequência da guerra civil, e tendo há coisa de
uma década aí assentado, Sahra Dawo e Abdinur Daljir gerem hoje uma loja de
cassetes, DVD e CD num centro comercial para expatriados na periferia de
Columbus, a capital do estado norte-americano do Ohio, uma das sedes da
diáspora com origem no Corno de África. Mas segundo um artigo de março no
jornal Columbus Dispatch, ainda há quem pelo Global Mall se lembre da altura em
que – no seu país natal – a dupla era “tão famosa quanto Michael Jackson”. É
uma evidência a que se tem acedido aos poucos, desde que, em finais de 2007, o blog Likembe publicou música popular – da
Dur-Dur mas também dos colossais Iftin – procedente da Somália, ignorada no
espeleológico circo digital montado em torno de arquivos analógicos africanos, a
que se seguiu a divulgação de uma mão-cheia de singles de Magool, Faadumo Qaasim ou Shareero no blog African Music Treasures, da rádio
Voice of America. Paralelamente a isto geravam-se verdadeiras revelações no
YouTube: canais criados por emigrantes – tais como Waaberistudioatl, LBchannel
ou Dalmar46 – carregavam conteúdos de programas de variedades da televisão
estatal somaliana e, com Dawo à cabeça, permitiam a descoberta de uma vibrante
música moderna, capaz de contrariar noções de hegemonia cultural. “Volume 5”,
original de 1987, é uma tão maravilhosa quão insondável cápsula desse tempo em
que, no top de vendas do mundo inteiro,
Michael e Janet Jackson, Madonna, Prince, Paul Simon, Genesis ou Whitney
Houston promulgavam um mesmo programa feito de dança e fantasia.
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