10 de agosto de 2013

Ligeti: String Quartets; Barber: Adagio (ECM, 2013)




 Keller Quartet

Nas notas de apresentação deste disco, sublinha Paul Griffiths a anacronia do “Adágio” de Barber, composto em 1936 de uma forma que poderia ter sido perfeitamente entendida 50 anos antes, ouvido, então, como um “passo atrás” no mesmo ano de “Música para Cordas, Percussão e Celesta”, de Bartók, ou de “Densidade 21.5”, de Varèse. O pressuposto teórico do ensaísta britânico é assumidamente falacioso: isto é, compreende que a obra – em rigor, o molto adagio do “Quarteto de Cordas em Si menor, Op. 11”, logo orquestrado enquanto “Adágio para Cordas” – destoava mais dos usos do seu tempo do que propriamente dos de hoje, período este fascinado pela sincronização. Ou seja, a sua inserção entre os dois invariavelmente ‘modernos’ quartetos de cordas de Ligeti – o primeiro de 1953-54 e o segundo de 1968 – já não promove a atrição que se suporia. Por pertencerem todos à literatura dos recitais de câmara, quiçá pela encantação com que surgem aqui invocados, ou, apenas, porque muita da organização atual de repertório se faz assim, acumulando-se dados sem qualquer predicado que não o estrutural. Mas este brilhante programa remete ainda para outro assunto a que os compositores não são alheios: o da manipulação do ouvinte pela indústria de entretenimento e informação. Difunde-se o “Adágio” sempre que ocorrem tragédias a desafiar a escala humana – o que reforça o seu uso paródico em séries televisivas como “Simpsons” ou “Foi Assim que Aconteceu” ou a sua abusiva inclusão em compilações como “In Utero: Music for My Baby”; Ligeti popularizou-se pela irresponsável ação de Stanley Kubrick, que retalhou sem autorização peças suas em “2001: Odisseia no Espaço”. Seja como for, há algo de elementar a unir estas composições: não vão as três a lado nenhum. Cada última nota, uma tão pungente quão derradeira exalação. Pensando bem, é isso o que melhor traduz a sua presente acuidade.

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