Embora em
distinta variedade dialetal, os uníssonos entre o trompete de Finlayson e o
saxofone alto de Coleman evocam cada vez mais aqueles produzidos pela dupla
Dave Douglas-John Zorn no quarteto Masada: mantêm-se como a parte acessível de
um edifício sem muitas portas de entrada, caminhos abertos à lógica em terrenos
de perturbação intelectual. Baseiam-se ainda em modelos organizacionais de
algum esoterismo ao mesmo tempo que se vinculam ao profano. Em “Functional
Arrhythmias”, esse papel surge reforçado num quadro que pretende espelhar
ritmicamente complexas relações biológicas – impulsos nos aparelhos nervoso,
circulatório, respiratório, digestivo. Coleman, na apresentação do projeto, afirma
que “as atividades do corpo humano se relacionam de forma milagrosa, como numa
gigante peça musical cuja permanente e espontânea mutação reflita constantes
interações com o meio ambiente”. Se o saxofonista continua em busca de um
êxtase cinestésico, também o trompetista, na sua estreia enquanto líder, persuade
o ouvinte ao proceder como quem resolve um problema: o seu grupo – Miles Okazaki
na guitarra, Damion Reid à bateria, Keith Witty no baixo e David Virelles ao
piano – recebe o apelido de um famoso movimento defensivo no xadrez. Mas o
sistema é igualmente metafórico. Aliás, “Moment & the Message” é a
rejubilante prova da imunidade do jazz a qualquer doutrina hermética.
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