31 de agosto de 2013

Mozart: The Last Symphonies (Phi, 2013)




                                                           Orchestre des Champs-Elysées, Philippe Herreweghe (d)

Sobretudo em tempos de crise, e numa confirmação das suas mais ambíguas propriedades, abundam no mercado fonográfico copiosas edições das três últimas sinfonias de W. A. Mozart (1756-1791): a “Nº39 em Mi bemol maior” (K. 543), a “Nº40 em Sol menor” (K. 550) e a “Nº41 em Dó maior”, vulgo Júpiter (K. 551). E, eximindo-se considerações quanto ao que de mais moderno e conservador possuem umas e outras, será no mínimo fascinante comparar as práticas antigas com as hodiernas. Nessa perspetiva, interessará fundamentalmente verificar os efeitos que têm os avanços historiográficos em cada leitura. Por exemplo, contrariando o procedimento de há décadas – no qual, exortando de batuta em riste, maestros levavam audiências a crer no que, em termos célebres e solenes, se designava como o ‘apelo à eternidade’ nestas obras –, o presente modo de atuar surge informado por estudos que comprovam que, porventura tanto quanto a pretensões de posteridade, estas ilustres páginas escritas há 225 verões, entre junho e agosto de 1788, prestavam contas a obrigações circunstancialmente bem mais urgentes. Isto é, sabe-se agora que foram executadas ainda em vida do compositor (menos vezes do que o esperado em virtude da guerra de 1787-91 entre o Sacro Império Romano-Germânico e o Império Otomano) e que a própria fundação da trilogia não foi fortuita: era então comum cada opus ser publicado em grupos ou múltiplos de três peças. Por tudo isso, talvez, não se encontra aqui a pompa que, também em instrumentos de época, lhe investiu Gardiner ou a afetação que lhe incutiu Abbado. Entre a dinâmica visão de Jacobs e o cerco de seda com que o sitiou Mackerras, o que Herreweghe propõe é que se fixe a atenção num deslumbrante radical de Mozart: a transformação de todos os materiais à sua disposição num exótico encantamento.

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