12 de outubro de 2013

Kenny Wheeler “Six for Six” (Cam Jazz, 2013)



Arranca numa salva à bateria, por Martin France, e conjetura-se o mais improvável dos cenários: que Wheeler, num nostálgico sobressalto de octogenário, iludiu o melindre de filigraneiro com que habitualmente cercava as suas composições, enxertando-as agora com aquela robusta energia que, ao lado de Wolfgang Dauner ou Albert Mangelsdorf, ignificou nos idos do United Jazz+Rock Ensemble. Evidentemente, não é de todo isso o que aqui se passa. Mas serve o alerta para acentuar uma indispensável característica no percurso deste inconfundível trompetista: a da evasão. Pois é axiomático que, por exemplo, mãos-cheias de temperamentais registos de jazz britânico (tutelados por Joe Harriott, John Dankworth, Mike Westbrook, John Surman, Tony Oxley, John Stevens, Ian Carr, Tony Coe ou Graham Collier) atingiram inesperadas latitudes em virtude dos siderais arcos por si desenhados. O que, a talhe de foice, fornece pistas para que se compreenda uma discografia paralela de constituição esquizoide. De facto, durante anos, a sua ação, circúnvaga de agentes nada tangenciais, parecia a de um destrambelhado político, em ilícita convolação. Desde 1975, a associação à ECM (em nome próprio, nos Azimuth e na família alargada da editora – Arild Andersen, Rainer Brüninghaus, Ralph Towner, Dave Holland, Bill Frisell) regularizou-a, mas também a liofilizou. Por isso, muito do que fez se apresenta como um exercício de revelação e ocultação, conducente a paradoxos, em que figura um de insuperável poesia: na sua mais contundente expressão, Wheeler toca etereamente a partir de um sítio em que não há música alguma. O material aqui reunido – gravado, em 2008, com John Taylor, Stan Sulzmann, Bobby Wellins, Chris Laurence e France, e reminiscente de elegantes álbuns em quinteto de meados de 80 – confirma quanto se ganha ao ouvi-lo.

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