12 de outubro de 2013

Ortiz: Recercadas del Tratado de Glosas (Alia Vox, 2013)



Jordi Savall (vlag), Ton Koopman (crv), Andrew Lawrence-King (hpa)
Decantações da arte espanhola do renascimento, estas ricercatas trazem à memória uma consideração estética de Filipe II, que, em abono da verdade, já se provou mais anacrónica: “simplicidade na forma, severidade no conjunto, nobreza sem arrogância, majestade sem ostentação”. Ou seja, se em pleno siglo de oro isto não é um programa de austeridade, anda lá perto. E Diego Ortiz sintetizou-o perfeitamente quando, em Roma, em 1553, dedicando-o ao “Ilustríssimo Senhor D. Pedro d’Urriés”, viu publicado o seu “Trattado de Glosas Sobre Clausulasy Otros Generos de Puntos en la Musica de Violones”. Talvez por isso reedite Jordi Savall esta sua gravação de 1989, originalmente lançada pela Astrée, em que captou a singularidade de uma obra organicamente suspensa entre o estilo Reis Católicos, ou plateresco, e o herrerianismo; isto é, que partia da exuberância decorativa para chegar à purificação ornamental. Savall visitou-a pela primeira vez em 1970, num registo para a Hispavox, e evocou-a em “La Folia”, em 1998; e outras perspetivas – como a de Bettina Hoffmann, para a Tactus, subsequentemente antologiada pela Brilliant, ou a de Wieland Kuijken, para a Regis – têm-na mantido em catálogo. Mas é evidente – cf. em discos de Christina Pluhar ou Daniel Hope – que só algumas das suas 61 páginas têm servido propósitos demonstrativos, quase sempre ao nível do virtuosismo. Fica agora integralmente restaurada enquanto uma essencial contribuição para o processo figurativo na música instrumental dos séculos XVI e XVII, em variações contrapontistas, improvisadas ou na definição dos baixos contínuo e ostinato, ganhando aqui – graças a Savall, Koopman, Lawrence-King mas igualmente a Lorenz Duftschmid, Paolo Pandolfo ou ao alaudista Rolf Lislevand – uma tão ascética quão imaginativa interpretação.

Sem comentários:

Enviar um comentário