Concerto Soave, Jean-Marc
Aymes (org, crv, d), Mara Galassi (hpa)
Tenebrae, Nigel Short (d)
Mal penetrando na ruinaria, não se
sabe se caseiro se historiador local, um senhor fala para a câmara: “Gesualdo
viveu os seus últimos 16 anos de vida neste castelo, isolado, atormentado, dilacerado,
perseguido por demónios. Os seus madrigais são a expressão de um mundo
espiritual mergulhado em loucura”. É a cena de abertura de “Death for FiveVoices”, de Werner Herzog, exemplo do que se poderia apelidar de ‘documentarismo
transcendental’. Mas analisando as edições deste quadringentenário – de “SacraeCantiones, Liber Secundus”, pelo Vocalconsort Berlin, e “Sesto Libro deMadrigali”, pela La Compagnia del Madrigale, aos presentes volumes – fica a
ideia de que se trabalha já no sentido de esclarecer que nem no caso do homicida
Príncipe de Venosa pode a biografia explicar tudo. Daí a hábil solução de
chegar a obras de Carlo Gesualdo (156?-1613) por intermédio das de dois contemporâneos
seus, instrumental a de Ascanio Maione (1565-1627), litúrgica a de Tomás Luis
de Victoria (1548-1611), confirmando o que Susan McClary, em “Modal
Subjectivities”, definiu como a “primeira construção consciente de
subjetividades na música”. “Tribulationem” é insuperável em fluidez e
espontaneidade, subtileza e ardor. Os “Responsos”, numa representação algo
vítrea, perdem-se na catedral da imaginação.
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