12 de outubro de 2013

Mulatu Astatke “Sketches of Ethiopia” (Jazz Village, 2013)


Nem por isso especialmente inspirada, a produção em Adis Abeba do britânico Dan Harper tornou-se paradigmática ao veicular-se enquanto “Invisible System”. Isto porque, decerto, não foram incursões de colecionadores nas mais recônditas províncias do eBay – pelas quais se iam vendendo originais de “Mulatu of Ethiopia” a 500 euros – as responsáveis pelo fomento de um mercado internacional para a música da Etiópia. Nem tal se ficou inteiramente a dever a “Ethio Jazz & Musique Instrumentale, 1969-1974”, quarto volume da série “Éthiopiques”, em 1998 consagrado ao trabalho de Astatke. Já a inclusão de três dos seus temas na banda-sonora de “Broken Flowers”, de Jim Jarmusch, permitiu que, no terreno, logo se vislumbrassem componentes sistémicos suficientemente integrados para que – de forma estrutural e comportamental – esse sincrético e individual postulado do ‘ethio jazz’ saísse dos subterrâneos da cultura popular e se convertesse em língua franca para uma geração empenhada em reorganizar sedes criativas à escala planetária. Comprova-o a ação conjunta de The Ex em Amesterdão, Krar Collective e Heliocentrics em Londres, Debo Band em Boston, Bixiga 70 em São Paulo ou Budos Band e Nicolas Jaar em Nova Iorque, estetas que nessa antiga formulação tão avessa ao dogma identificaram uma promessa de liberdade para ímpetos expressivos muito particulares. Trata-se de mais-valia que outras ressurreições – Buena Vista Social Club, Tom Zé, Orchestre Poly-Rythmo – não chegaram a gerar. E o que este “Sketches of Ethiopia” agora certifica – contrariando um título plantado à sombra de Miles Davis e Gil Evans – é ainda mais radical: que o septuagenário etíope soube expandir a idiossincrasia numa linguagem inesperadamente permeável ao impacto daqueles que com um novo público a entremearam. E talvez resida aí a sua derradeira lição.

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