9 de novembro de 2013

Bartók: Violin Concertos Nos. 1 & 2 (Harmonia Mundi, 2013)




Isabelle Faust (vl), Swedish Radio Symphony Orchestra, Daniel Harding (d)

O “Concerto para Violino nº 2”, de Béla Bartók (1881-1945), tem cerceado a espessura emocional de todos aqueles que, de modo caucionário, dele se acercam para simular sensações cuja verdadeira grandeza desconhecem. Mas, apesar das lições de Menuhin/Furtwängler, Stern/Bernstein ou Hetzel/Fischer, há outra forma de o entender: não como se tivesse sido ultrapassado pelos avanços do seu tempo, mas, sim, como se tivesse antecipado desenvolvimentos futuros. Dessa maneira não o manquejam tanto o dogma do cromatismo ou a fórmula do ‘motivo condutor’, nem anacrónica se afigura a sua arquitetura ou factícias se provam as ‘modernistas’ técnicas que emprega. E importa desfazer, igualmente, o equívoco do folclore: o de que o húngaro o recolhia para aparentar gerá-lo. Porque, quanto muito, esta foi uma música popular engendrada para contrariar populistas chefes de estado – então, em 1939, a lançar a Europa no caos. E Faust leva tudo isto a peito. Talvez por saber que o funambulismo não é uma consequência desta expressão dramática, mas, antes, o que lhe está na base, o caráter provinciano da obra é, nas suas mãos, tão comovente quão sarcástico se revela o seu cosmopolitismo. Por isso mantém duvidosas superficialidades, miasmas e assimetrias, coibindo-se até – conforme intenção do compositor – de tocar uma hipertrófica coda. Também o hesiódicoConcerto para Violino nº 1” é visto como uma oblação de uma consciência em crise, pejado de temperamentais contradições e dilacerado pelo rancor – foi, em 1908, dedicado a Stefi Geyer como memento de um amor impossível. Mas é a frequente e perturbante incompatibilidade entre os materiais de que Bartók se socorreu aquilo que, aqui, ganha proeminência. A violinista alemã nem por um segundo o oculta.

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