Isabelle Faust (vl), Swedish Radio Symphony Orchestra, Daniel Harding
(d)
O “Concerto para Violino nº 2”, de
Béla Bartók (1881-1945), tem cerceado a espessura emocional de todos aqueles que,
de modo caucionário, dele se acercam para simular sensações cuja verdadeira grandeza
desconhecem. Mas, apesar das lições de Menuhin/Furtwängler, Stern/Bernstein ou Hetzel/Fischer,
há outra forma de o entender: não como se tivesse sido ultrapassado pelos avanços
do seu tempo, mas, sim, como se tivesse antecipado desenvolvimentos futuros. Dessa
maneira não o manquejam tanto o dogma do cromatismo ou a fórmula do ‘motivo
condutor’, nem anacrónica se afigura a sua arquitetura ou factícias se provam as
‘modernistas’ técnicas que emprega. E importa desfazer, igualmente, o equívoco do
folclore: o de que o húngaro o recolhia para aparentar gerá-lo. Porque, quanto
muito, esta foi uma música popular engendrada para contrariar populistas chefes
de estado – então, em 1939, a lançar a Europa no caos. E Faust leva tudo isto a
peito. Talvez por saber que o funambulismo não é uma consequência desta
expressão dramática, mas, antes, o que lhe está na base, o caráter provinciano da
obra é, nas suas mãos, tão comovente quão sarcástico se revela o seu
cosmopolitismo. Por isso mantém duvidosas superficialidades, miasmas e
assimetrias, coibindo-se até – conforme intenção do compositor – de tocar uma hipertrófica
coda. Também o hesiódico “Concerto para Violino nº 1” é visto como uma oblação
de uma consciência em crise, pejado de temperamentais contradições e dilacerado
pelo rancor – foi, em 1908, dedicado a Stefi Geyer como memento de um amor
impossível. Mas é a frequente e perturbante incompatibilidade entre os
materiais de que Bartók se socorreu aquilo que, aqui, ganha proeminência. A violinista
alemã nem por um segundo o oculta.
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