16 de novembro de 2013

The Wigmore Hall Recital (Deutsche Grammophon, 2013)

Antonio Meneses (vlc), Maria João Pires (p)
Pires e Meneses fecharam 2012 em palcos espanhóis, reproduzindo o mesmíssimo programa com que – neste recital gravado a 3 de janeiro no londrino Wigmore Hall – haviam começado o ano: a “Sonata Arpeggione, D 821”, de Schubert, os “Três Interlúdios, Op. 117” e a “Sonata para Piano e Violoncelo nº 1 em Mi menor, Op. 38”, de Brahms, a “Canção sem Palavras para Violoncelo e Piano em Ré maior, Op. 109”, de Mendelssohn, e, em encore, a ária da “Pastoral em Fá maior, BWV 590”, de Bach. Hoje à noite tocam juntos na Fondation Pierre Gianadda, Suíça, e depois de amanhã rumam a Paris, à Salle Pleyel, seguindo posteriormente para uma série de apresentações em Itália. Mas se a dupla se mantém em exercício (longe de Portugal, como não poderia deixar de ser), já o seu atual repertório sofreu significativas alterações, privilegiando-se agora Beethoven e beneficiando um e outro instrumentista de momentos a solo sob os holofotes. Por isso mais relevante se prova este registo. Não tanto pela “Sonata para Arpeggione e Piano em Lá menor” – ainda e sempre fruto do trabalho de um ourives em pechisbeque que, quando publicada, em 1871, extinto o seu mediador, teve de incluir uma parte adaptada para violoncelo – ou, sequer, pela charmosa miniatura de Mendelssohn, mas, antes, pelo interesse acrescido em ouvir Pires dedicada a um compositor relativamente ausente da sua discografia. De facto, remontam a início e meados dos anos 90 – através das sonatas para violino, com Augustin Dumay, e dos trios para piano, com Dumay e Jian Wang – as suas últimas incursões por Brahms, cujos instintos revolucionários descerra com singular decoro. E se o seu entendimento dos intermezzi é enternecedor, é pela gestão da rigidez do Op. 38, com a sua lógica quase reacionária, que pianista e violoncelista se revelam inexcedíveis, sem um pingo de impostura emocional.

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