Antonio Meneses (vlc), Maria
João Pires (p)
Pires e Meneses fecharam 2012 em palcos espanhóis, reproduzindo o mesmíssimo programa com que – neste recital
gravado a 3 de janeiro no londrino Wigmore Hall – haviam começado o ano: a “Sonata
Arpeggione, D 821”, de Schubert, os “Três Interlúdios, Op. 117” e a “Sonata para
Piano e Violoncelo nº 1 em Mi menor, Op. 38”, de Brahms, a “Canção sem Palavras
para Violoncelo e Piano em Ré maior, Op. 109”, de Mendelssohn, e, em encore, a ária da “Pastoral em Fá maior,
BWV 590”, de Bach. Hoje à noite tocam juntos na Fondation Pierre Gianadda, Suíça, e depois de amanhã rumam a Paris, à Salle Pleyel, seguindo posteriormente para uma série de apresentações em Itália. Mas se a dupla se
mantém em exercício (longe de Portugal, como não poderia deixar de ser), já o seu
atual repertório sofreu significativas alterações, privilegiando-se agora
Beethoven e beneficiando um e outro instrumentista de momentos a solo sob os
holofotes. Por isso mais relevante se prova este registo. Não tanto pela “Sonata
para Arpeggione e Piano em Lá menor” – ainda e sempre fruto do trabalho de um
ourives em pechisbeque que, quando publicada, em 1871, extinto o seu mediador,
teve de incluir uma parte adaptada para violoncelo – ou, sequer, pela charmosa
miniatura de Mendelssohn, mas, antes, pelo interesse acrescido em ouvir Pires dedicada
a um compositor relativamente ausente da sua discografia. De facto, remontam a
início e meados dos anos 90 – através das sonatas para violino, com Augustin Dumay, e dos trios para piano, com Dumay e Jian Wang – as suas últimas
incursões por Brahms, cujos instintos revolucionários descerra com singular
decoro. E se o seu entendimento dos intermezzi
é enternecedor, é pela gestão da rigidez do Op. 38, com a sua lógica quase
reacionária, que pianista e violoncelista se revelam inexcedíveis, sem um pingo
de impostura emocional.
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