Entre Thelonious Monk e Cecil
Taylor postulou-se um modelo que subverteu o princípio da idiossincrasia.
Afinal, quer um quer outro iam promulgando um quadro de referência de potencialmente
infinita mutação, ao mesmo tempo que, pela literatura crítica, se acumulavam
intransigentes afirmações em relação ao que erroneamente se identificava como
uma expressão monolítica. Já Randy Weston entendeu as lacónicas pausas num e o cromatismo
– na realidade, todo o movimento harmónico – no outro enquanto uma depuração formal
do blues. E, como no caso desses
subestimados paladinos da diáspora, foi por narrar a história da criação do mundo
sempre que se sentou ao piano que ganhou, paradoxalmente, eloquência e
dinamismo a sua matricial alegoria. Mas, ou porque os cínicos observavam no seu
contínuo diálogo com o tempo mítico um qualquer encobrimento ou por ter sido,
por arrivistas, frequentemente confrontado com o equívoco que apensa à novidade
apostólicas emanações do futuro, há momentos em que da sua ação pouco mais fica
do que um perfume a madeiras queimadas. Aos 87 anos – e com uma discografia de cerca de 50 títulos não menos elusiva – é trágico, intrinsecamente errado, mas estranhamento
apropriado que se confunda com uma memória. E se, à primeira vista, ao
assinalar um par de reencontros – com Billy Harper, que ao seu lado esteve em “Saga”
(1995) ou “Tanjah” (1973); e com
Jean-Philippe Allard, o produtor que, de “The Spirits of Our Ancestors” a “Earth Bird”, lhe patrocinou a gravação de uma mão cheia de obras-primas nos anos 90 –
é disso mesmo que “The Roots of the Blues” aparenta tratar, a verdade é
que nada do que aqui está, ainda que
temas inéditos sejam só dois, alguma vez se ouviu exatamente desta maneira. Isto
é, em Weston cada vez mais o teatro se emaranha com o sagrado. A falta que faz.
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