16 de novembro de 2013

Randy Weston/Billy Harper “The Roots of the Blues” (EmArcy, 2013)

Entre Thelonious Monk e Cecil Taylor postulou-se um modelo que subverteu o princípio da idiossincrasia. Afinal, quer um quer outro iam promulgando um quadro de referência de potencialmente infinita mutação, ao mesmo tempo que, pela literatura crítica, se acumulavam intransigentes afirmações em relação ao que erroneamente se identificava como uma expressão monolítica. Já Randy Weston entendeu as lacónicas pausas num e o cromatismo – na realidade, todo o movimento harmónico – no outro enquanto uma depuração formal do blues. E, como no caso desses subestimados paladinos da diáspora, foi por narrar a história da criação do mundo sempre que se sentou ao piano que ganhou, paradoxalmente, eloquência e dinamismo a sua matricial alegoria. Mas, ou porque os cínicos observavam no seu contínuo diálogo com o tempo mítico um qualquer encobrimento ou por ter sido, por arrivistas, frequentemente confrontado com o equívoco que apensa à novidade apostólicas emanações do futuro, há momentos em que da sua ação pouco mais fica do que um perfume a madeiras queimadas. Aos 87 anos – e com uma discografia de cerca de 50 títulos não menos elusiva – é trágico, intrinsecamente errado, mas estranhamento apropriado que se confunda com uma memória. E se, à primeira vista, ao assinalar um par de reencontros – com Billy Harper, que ao seu lado esteve em “Saga” (1995) ou “Tanjah” (1973); e com Jean-Philippe Allard, o produtor que, de “The Spirits of Our Ancestors” a “Earth Bird”, lhe patrocinou a gravação de uma mão cheia de obras-primas nos anos 90 – é disso mesmo que “The Roots of the Blues” aparenta tratar, a verdade é que nada do que aqui está, ainda que temas inéditos sejam só dois, alguma vez se ouviu exatamente desta maneira. Isto é, em Weston cada vez mais o teatro se emaranha com o sagrado. A falta que faz.

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