2 de novembro de 2013

“¡Saoco! Vol. 2: Bomba, Plena and the Roots of Salsa in Puerto Rico, 1955-1967” (Vampisoul, 2013)



Prossegue a crónica iniciada em “The Bomba and Plena Explosion in Puerto Rico, 1954-1966”, embora não difiram significativamente os protagonistas. O que serve para confirmar que aquilo que descrentes tomariam por defeito é na realidade feitio. Isto é, que um retrato dedicado à conceção musical em Porto Rico anterior à da majestosa geração dos Fania All-Stars não terá forçosamente de se situar na pré-história. Aliás, a própria reincidência documental na produção de Mon Rivera, Moncho Leña, Odilio González, Chivirico e, em oito temas, na da elástica trupe liderada por Rafael Cortijo e Ismael Rivera, sugere que, ao contrário do que tantas vezes se lê, o manancial de soluções criativas de que viriam a gozar Héctor Lavoe, Willie Colón, Cheo Feliciano, Ray Barretto, Adalberto Santiago, Ismael Miranda, Bobby Cruz, Ricardo Ray ou Bobby Valentín – para enumerar apenas os intervenientes com ascendência porto-riquenha no ebuliente documentário “OurLatin Thing (Nuestra Cosa)”, em 1971 realizado por Leon Gast – não teria origem exclusiva no multiculturalismo endémico à cidade de Nova Iorque. Mas diz mais: nomeadamente que não só no desígnio do expatriado se manifestou uma sensibilidade africana que as autoridades locais insistiam em amordaçar. E porque, neste período, a gerência norte-americana criminalizava qualquer tipo de associação de pendornacionalista – tentando homogeneizar culturalmente o território –, ainda mais versátil desponta um repertório capaz de equilibrar sumptuosa dimensão orquestral e arcaica construção rítmica, galhardia interpretativa e comentário rudimentar, prosa cosmopolita e poesia tão antiga quanto as montanhas. Pioneira do polimorfo expressionismo da salsa, esta ação fortalece fronteiras ao mesmo tempo que as diminui, magistralmente democrática.

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