Prossegue
a crónica iniciada em “The Bomba and Plena Explosion in Puerto Rico, 1954-1966”,
embora não difiram significativamente os protagonistas. O que serve para confirmar
que aquilo que descrentes tomariam por defeito é na realidade feitio. Isto é, que
um retrato dedicado à conceção musical em Porto Rico anterior à da majestosa
geração dos Fania All-Stars não terá forçosamente de se situar na pré-história.
Aliás, a própria reincidência documental na produção de Mon Rivera, Moncho
Leña, Odilio González, Chivirico e, em oito temas, na da elástica trupe
liderada por Rafael Cortijo e Ismael Rivera, sugere que, ao contrário do que
tantas vezes se lê, o manancial de soluções criativas de que viriam a gozar Héctor
Lavoe, Willie Colón, Cheo Feliciano, Ray Barretto, Adalberto Santiago, Ismael
Miranda, Bobby Cruz, Ricardo Ray ou Bobby Valentín – para enumerar apenas os
intervenientes com ascendência porto-riquenha no ebuliente documentário “OurLatin Thing (Nuestra Cosa)”, em 1971 realizado por Leon Gast – não teria origem
exclusiva no multiculturalismo endémico à cidade de Nova Iorque. Mas diz mais: nomeadamente
que não só no desígnio do expatriado se manifestou uma sensibilidade africana
que as autoridades locais insistiam em amordaçar. E porque, neste período, a
gerência norte-americana criminalizava qualquer tipo de associação de pendornacionalista – tentando homogeneizar culturalmente o território –, ainda mais
versátil desponta um repertório capaz de equilibrar sumptuosa dimensão orquestral
e arcaica construção rítmica, galhardia interpretativa e comentário rudimentar,
prosa cosmopolita e poesia tão antiga quanto as montanhas. Pioneira do
polimorfo expressionismo da salsa,
esta ação fortalece fronteiras ao mesmo tempo que as diminui, magistralmente
democrática.
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