Porventura contrariando as
expectativas – à revelação da capa do quinto álbum de estúdio dos MOPDtK – de
todos quanto aguardavam um composto de anfetaminas produzido para corroborar a
teoria de que se estava perante a versão para a ‘era da informação’ do dissimulado
conceptualismo dos Lounge Lizards ou da rapinante vilanagem dos Naked City, eis
que Moppa Elliot, contrabaixista e compositor do ocasionalmente furtivo
repertório do quarteto, anuncia que “Slippery Rock!” resulta antes de uma inusitada,
e quiçá escorregadia, incursão no pantanoso terreno do smooth jazz, tal como explicou ao “All About Jazz”, em entrevista a
Troy Collins: “comprei cerca de trinta álbuns de smooth jazz e deixei-me mergulhar por completo nesse universo
sonoro, por isso estes temas são uma tentativa minha de compor nesse idioma”. De
facto, num prolongamento da assimétrica estratégia de gestão de influências
previamente ensaiada, não é desta que o extático vernáculo da banda se permite
sedar por ardis retóricos. Ao invés, a premissa sugere uma engenhosa e
provocatória combinação de referências que problematiza um método de trabalho
que, de forma simplificativa, se poderia descrever como autólatra. E talvez
seja por isso que – conforme promulgaram as sinestésicas operações lideradas na
década de 80 por John Lurie e John Zorn – se mostre tão essencialmente
pós-moderna esta sincrónica navegação por categorias só na aparência retidas no
tempo. E se os porfiados diálogos de saxofone e trompete entre Jon Irabagon e
Peter Evans sobre a impertinência rítmica de Kevin Shea lembram mais ‘Bird’ e ‘Dizzy’
e Roach do que os irmãos Brecker e Lenny White, o ponto parece ser precisamente
esse: reconduzir o criador a uma encruzilhada de ideologias. Brilhante.
[Hoje,
às 22h00, no Teatro Maria Matos, Peter Evans toca com o Rodrigo Amado Motion
Trio]
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