16 de março de 2013

Mostly Other People Do The Killing “Slippery Rock!” (Hot Cup, 2013)



Porventura contrariando as expectativas – à revelação da capa do quinto álbum de estúdio dos MOPDtK – de todos quanto aguardavam um composto de anfetaminas produzido para corroborar a teoria de que se estava perante a versão para a ‘era da informação’ do dissimulado conceptualismo dos Lounge Lizards ou da rapinante vilanagem dos Naked City, eis que Moppa Elliot, contrabaixista e compositor do ocasionalmente furtivo repertório do quarteto, anuncia que “Slippery Rock!” resulta antes de uma inusitada, e quiçá escorregadia, incursão no pantanoso terreno do smooth jazz, tal como explicou ao “All About Jazz”, em entrevista a Troy Collins: “comprei cerca de trinta álbuns de smooth jazz e deixei-me mergulhar por completo nesse universo sonoro, por isso estes temas são uma tentativa minha de compor nesse idioma”. De facto, num prolongamento da assimétrica estratégia de gestão de influências previamente ensaiada, não é desta que o extático vernáculo da banda se permite sedar por ardis retóricos. Ao invés, a premissa sugere uma engenhosa e provocatória combinação de referências que problematiza um método de trabalho que, de forma simplificativa, se poderia descrever como autólatra. E talvez seja por isso que – conforme promulgaram as sinestésicas operações lideradas na década de 80 por John Lurie e John Zorn – se mostre tão essencialmente pós-moderna esta sincrónica navegação por categorias só na aparência retidas no tempo. E se os porfiados diálogos de saxofone e trompete entre Jon Irabagon e Peter Evans sobre a impertinência rítmica de Kevin Shea lembram mais ‘Bird’ e ‘Dizzy’ e Roach do que os irmãos Brecker e Lenny White, o ponto parece ser precisamente esse: reconduzir o criador a uma encruzilhada de ideologias. Brilhante.

[Hoje, às 22h00, no Teatro Maria Matos, Peter Evans toca com o Rodrigo Amado Motion Trio]

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