16 de março de 2013

“The Ravi Shankar Collection” (EMI, 2012)



À míngua de originais, muito perversamente, equivale-se nos escaparates uma inédita proliferação de baús, destinada a equilibrar os predatórios instintos de colecionadores com os sonhos de posteridade de criadores e a encapsular os mais hemorrágicos índices de produção: num aleatório inventário de novidades, que do fenómeno apenas arranha a superfície, é agora possível ter numa só caixa todo o Verdi, o catálogo completo da Instant Composers Pool, sete LP de Cecil Taylor, as composições para dois pianos de Debussy, os álbuns de estúdio de Joni Mitchell entre 68 e 79 ou os dos Van Halen entre 78 e 84, as remisturas de Tom Moulton, cada segundo captado em fita dos Stark Reality, recitais de Van Cliburn na RCA, registos oficiosos de Miles Davis em 69 ou um impressionante compêndio realizado por Peter Brötzmann. Talvez por se presumir que o comprador ocasional de música dispensa já do formato físico cai-se no extremo oposto: considerar que quem ainda gosta de a ouvir não tem mais nada que fazer com o seu tempo. Pecado que esta antologia consagrada a Ravi Shankar – reunindo onze horas de gravações – não comete, dada a dispersão e vastidão do legado do sitarista falecido em dezembro e, apesar de irresponsável e cripticamente o ocultar, por incluir, numa repreensível organização anacrónica e por entre uma série de curiosidades menores – como o concerto no festival de Monterey ou as peças orquestrais conduzidas por Previn e Mehta – um punhado de obras-primas da sua discografia da década de 60: “Improvisations”, em que colabora o quarteto de Bud Shank, Dennis Budimir, Gary Peacock e Louis Hayes, “India’s Master Musician”, “Portrait of a Genius”, com Paul Horn na flauta, “In New York”, com Alla Rakha nas tablas e Shyam But-Nagar na tambura, ou “Menuhin Meets Shankar”, com Yehudi Menuhin no violino.

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