O espécime parecia um provocatório
oximoro e, de facto, a audição, em 2010, do ensaio inaugural desta banda com filiação
nominal na pseudis paradoxa – a rã que encolhe consideravelmente
à medida que se vai tornando adulta, isto é, cujas crias são maiores do que os
progenitores – confirmava uma inquietante tese empenhada em contrariar alguns
dos princípios formais e idiomáticos associados à prática da música
improvisada. Numa ocasional concatenação de vozes – solos, duos e trios em
extensões tímbricas à primeira vista extemporâneas – que privilegiava uma
coalescência mais textural do que melódica, a pianista Kris Davis, a
saxofonista Ingrid Laubrock e o multi-instrumentista Tyshawn Sorey,
predominantemente na bateria, teciam ondulantes e elípticos padrões, como uma
anfíbia criatura enredando limos ao sabor da maré. E em composições
discriminatórias, conseguiam também produzir a ilusão de que todos os seus
constituintes, inclusivamente os contingentes a uma ação parcialmente
indeterminada, eram essenciais. Deste “Union” pode, no mínimo, dizer-se que é
ainda mais escrupuloso em seguir esse caminho que não só questiona a morfologia
típica do trio de jazz como sugere algo que apenas este trio de jazz poderia criar.
Uníssonos anunciativos, contrapontos pacientes, harmonias oblíquas, inesperadas
dinâmicas, enfim, um conjunto de estratégias que geram estruturas
enciclopédicas, informadas mais por um espírito de vanguarda do que
propriamente por determinada escola, focando-se em raras tangentes – intervalos
comuns em Thelonious Monk e Morton Feldman ou técnicas semelhantes em Anthony
Braxton e Luciano Berio são o tipo de insensatas proposições que inspiram – de
densidade variável que ocorrem num espaço de pura invenção e intriga, volátil e
evanescente, preciso e espontâneo, pleno de possibilidades.
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