Parte significativa da produção do
polaco Tomasz Stanko – marcada, na década de 60, por um determinante estágio no
climático quinteto de Krzysztof Komeda, quiçá responsável por uma dimensão
praticamente imagética na sua conceção musical – parece assinalar algum tipo de
insuficiência. E, no figurino do jazz europeu, poucos se terão concentrado com
a mesma consistência num discurso que, dada a sua intrínseca exiguidade, dá,
ciclicamente, mostras de se aproximar da extinção. Porque, apesar de ter
desempenhado funções de desembaraçado colorista num ou noutro efémero
agrupamento, Stanko opera – e a discografia por si idealizada para a ECM nos
últimos vinte anos certifica-o – num enlutado e noturnal ambiente, de uma
edificante solitude, porventura toldado pela atávica relação com o vulto de
Miles Davis. O processo assemelha-se ao de qualquer fotógrafo contemporâneo que
recorra ao monocromatismo sépia: as revelações, independentemente do objeto, aparentam
situar-se exclusivamente num passado remoto. Mas, da mesma forma que essa
técnica pictórica foi criada para aumentar a durabilidade do material impresso,
também o trompetista encena análogos paradoxos temporais com as suas
construções. Será o mínimo que se pode dizer deste primeiro ensaio com um novo
quarteto (David Virelles ao piano, Thomas Morgan no contrabaixo e Gerald
Cleaver à bateria) que imediatamente ombreia com o melhor dos seus precedentes:
“Leosia”, do boreal conjunto que Stanko formou com Bobo Stenson, Tony Oxley e
Anders Jormin, e “Lontano”, gravado com os compatriotas Marcin Wasilewski, Slawomir Kurkiewicz e Michal Miskiewicz. Dedicado à
poetisa Wisława Szymborska, é um elegíaco compósito de perene memória e constante
movimento, cujo estelar acompanhamento – resolutamente cartográfico no
desbravar de onze originais – resgata com assombro ao sepulcro.
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