9 de março de 2013

Tomasz Stanko New York Quartet “Wislawa” (ECM, 2013)



Parte significativa da produção do polaco Tomasz Stanko – marcada, na década de 60, por um determinante estágio no climático quinteto de Krzysztof Komeda, quiçá responsável por uma dimensão praticamente imagética na sua conceção musical – parece assinalar algum tipo de insuficiência. E, no figurino do jazz europeu, poucos se terão concentrado com a mesma consistência num discurso que, dada a sua intrínseca exiguidade, dá, ciclicamente, mostras de se aproximar da extinção. Porque, apesar de ter desempenhado funções de desembaraçado colorista num ou noutro efémero agrupamento, Stanko opera – e a discografia por si idealizada para a ECM nos últimos vinte anos certifica-o – num enlutado e noturnal ambiente, de uma edificante solitude, porventura toldado pela atávica relação com o vulto de Miles Davis. O processo assemelha-se ao de qualquer fotógrafo contemporâneo que recorra ao monocromatismo sépia: as revelações, independentemente do objeto, aparentam situar-se exclusivamente num passado remoto. Mas, da mesma forma que essa técnica pictórica foi criada para aumentar a durabilidade do material impresso, também o trompetista encena análogos paradoxos temporais com as suas construções. Será o mínimo que se pode dizer deste primeiro ensaio com um novo quarteto (David Virelles ao piano, Thomas Morgan no contrabaixo e Gerald Cleaver à bateria) que imediatamente ombreia com o melhor dos seus precedentes: “Leosia”, do boreal conjunto que Stanko formou com Bobo Stenson, Tony Oxley e Anders Jormin, e “Lontano”, gravado com os compatriotas Marcin Wasilewski, Slawomir Kurkiewicz e Michal Miskiewicz. Dedicado à poetisa Wisława Szymborska, é um elegíaco compósito de perene memória e constante movimento, cujo estelar acompanhamento – resolutamente cartográfico no desbravar de onze originais – resgata com assombro ao sepulcro.

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