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Com 16 anos, numas férias em
família pela Provença, Heston Blumenthal,
celebrity
chef, foi ao L’Oustau de Baumanière. Mais tarde, inspirado pelos aspetos multissensoriais
da experiência, “pelo som das fontes e das cigarras, pelo cheiro inebriante a
alfazema”, concebeu um prato, ‘Sound of the Sea’ (meixão, lingueirão, berbigão,
mexilhão, ouriço-do-mar, espuma marinha, areia edível), que servia acompanhado
por um iPod com gravações dos guinchos das gaivotas e do rumor da marulhada.
Dizia tratar-se de um “apelo integrado aos sentidos”. Se criasse um prato por
sugestão da música de Cecil Taylor, essoutro construtivista, que disse um dia
que o seu objetivo era o de “edificar uma estrutura totalmente integrada em
cada peça”, imagina-se que tivesse de investigar o subsolo. Isto porque, talvez
pela extensão do
blues que sempre
mostrou ser, esta música sabe a terra. A 16 de novembro de 1981, aliás, este
concerto em Basileia começou precisamente por uma declamação em línguas
desconhecidas, pela qual, em inglês, irrompia a frase “e iremos para os campos
lavrar.” Agora que o reedita em dois volumes (com masterização e
sequencialização retocadas), a Hat Hut decide ilustrar “Garden” com o que
parecem ser as chaminés de fada do Bryce Canyon, como quem diz que também aqui
vê os efeitos de uma ação erosiva. Taylor a escavar o jazz até ao osso. A
esculpir perpetuamente o interior de quem o ouve.
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