Geneviève Strosser (va), Jürg Dähler (va), Muriel
Cantoreggi (va), The Hilliard Ensemble
Em notas de apresentação, Heinz
Holliger fala-nos de novas perspetivas. Refere-se, como é óbvio, à sua própria
atividade enquanto compositor e ao impacto que nela teve o “estudo aprofundado”
da obra de Guillaume de Machaut (1300-1377). Mais à frente no texto, quando faz
referência a cada uma destas suas “Transcrições” (dispostas no CD de modo
alternado com alguns dos modelos de que procedem, como “Biauté qui toutes
autres pere” ou “Hoquetus David”), recorre a palavras como “atomização”,
chegando a fazer alusão à “excitação de partículas” não tanto como ela é
estudada pela física mas antes como surge na poesia de Celan (Partikelgestöber). Não explica que, mais
tarde, Celan teve de tornar claro que esses versos eram em parte instigados
pela memória de Hiroxima e escritos “em prol da humanidade e contra o esvaziar
e o atomizar [dos seus valores].” Seja como for, o poema permanece útil para
quem queira explicar algo do que aqui se passa. Por exemplo, que, no seu
melhor, já não são bem os temas de Machaut e os de Holliger que estão
eficazmente tecidos lado a lado mas sim outra coisa qualquer que entre eles se
colocou, que os esgarçou e tornou a coser e de que mal conseguimos hoje
entrever as costuras: 600 anos de cinzas. A ideia não é nova. Afinal, Machaut, por
intermédio de Schoenberg ou Messiaen, havia chegado a Goeyvaerts, Boulez e
Stockhausen. Mas a sua aplicação, é. Com clímax em “Complainte und Epilog”, não
se pretende tanto conferir autoridade a um programa de música contemporânea por
via da especulação historicista quanto fazer com que um tempo se dissolva no
outro.
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