Era pelo
seu Lado B, de modo progressivo entre ‘Meditation # 1’ e ‘Meditation # 2’, mas
definitivamente mais pelo seu último tema, que este cintilante “Day of
Radiance” dava realmente o corpo ao manifesto. Nomeadamente por tão bem trazer
à memória, aí, mais do que em qualquer outro momento, esta frase crucial na
declaração pública de intenções que Brian Eno, seu ideólogo, produtor e
complicador, redigiu por alturas de “Ambient 1: Music for Airports”: “Enquanto
a música de fundo convencional se produz pela eliminação da dúvida e da
incerteza (portanto, tudo o que de genuinamente interessante a música possui),
a Música Ambiental conserva essas qualidades.” Aliás, porque nos seus
derradeiros minutos pouco se distinguem as cordas da auto-harpa e da cítara em
que foi tocado, era efetivamente à medida que caminhava para o seu final que o
som do disco mais se começava a parecer com o de um espaço acústico virtual.
Com o de uma música – como, em “A Year”, apanhado de textos diarísticos e
epistolares, refletia Eno em 1996 – em que “fosse possível nadar, flutuar,
perdermo-nos”. Por coincidência (que neste contexto é anátema), numa entrevista
deste ano, Laraaji falava num “banho de acordes”. Dir-se-ia, até, que lhes
bastou esta colaboração em 1980 para compreenderem que da música queriam a
mesma coisa: um pretexto para uma nova forma de pensar, que é como quem diz uma
nova forma de viver.
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