5 de dezembro de 2015

Daniel Levin/Mat Maneri “The Transcendent Function” (Clean Feed, 2015)




Como quem põe o cinto de segurança mal se senta ao volante, Art Lange, responsabilíssimo crítico norte-americano e autor das notas de apresentação deste CD, começa à defensiva, citando Carl Jung: “Por ‘função transcendente’ não se entenda algo de misterioso, suprassensível ou metafísico, mas sim algo que, pela sua natureza, pode ser comparado à função matemática que tem o mesmo nome e que é uma função de números reais e imaginários. A ‘função transcendente’ resulta da união de conteúdos conscientes e inconscientes.” Quase que se sente o cheiro a cachimbo, para não dizer a incenso. Mas, já agora, podia Lange alongar-se um pouco mais, até ao ponto em que o pai da psicologia analítica, no mesmo ensaio, afirmava tratar-se de um processo semelhante ao de “um diálogo entre dois seres humanos com os mesmos direitos”, gerando, assim, “uma tensão carregada de energia” e uma “terceira coisa viva”, que “leva a um novo nível de existência, a uma nova situação”. Agora, sim, na medida exata em que Webern dizia que a sua música para cordas (de que esta, a espaços, possui vestígios) lhe saía como poesia, estamos no domínio da crítica musical. Aliás, estes duetos para violoncelo e violeta trazem à memória uma frase que um outro contemporâneo de Jung (Schoenberg) escreveu precisamente sobre as “Seis Bagatelas” (de Webern): “Em cada olhar, um poema; em cada suspiro, um romance.” Levin e Maneri não estão, portanto, apenas num mundo de filigrana, à beira da imaterialidade. O que produzem é conciso, mas igualmente denso; de aparente discordância, mas absolutamente coerente. Como a melhor poesia.

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