31 de dezembro de 2015

Arianna Savall, Petter Udland Johansen, Hirundo Maris: Il Viaggio D’amore (Carpe Diem, 2015)



Exige algum comprometimento com os aspetos mais sentimentais da celebração que propõe, mas, com efeito, a verdade é que este disco encerra com ‘Gracias a la Vida’, a canção que Violeta Parra terminou pouco antes de pôr um ponto final na sua existência física com um tiro na cabeça. Ou seja, num programa que vai liquefazendo relógios e ignorando fronteiras, da Península Ibérica ao Chile, da Itália à Noruega, da Áustria à Inglaterra, do Renascimento ao século XX, é como se Arianna Savall (voz e harpa), Petter Udland Johansen (voz e rabeca) e os demais músicos do ensemble Hirundo Maris, através de tamanha ambiguidade, viessem dizer que o amor é por excelência o palco de todas as contradições ou, quiçá, num derradeiro arroubo romântico, que com a morte não vem necessariamente o fim. Há aqui pelo menos uma canção que mais do que isso não diz – ou melhor, trata-se de uma adaptação, por Arianna, de um poema de Apollinaire (“L’adieu”) em que o narrador aspira à eternidade. Mas as visões sobre o amor que este CD propõe são mais variadas: há espaço para a traição (‘Rosa fresca’), para a sedução (‘Yo me soy la morenica’), para o incesto (‘La Dama d’Aragó’), para a rejeição (‘Si dolce è il tormento’, o famoso madrigal de Monteverdi), enfim, para a consumação (‘L’amour de moi’ e, ao que tudo indica, também o espinhoso ‘Heidenröslein’, de Schubert e Goethe, outro tanto não vem simbolizar). No entanto, cada perspetiva é em si mesmo absolutamente definitiva e completamente parcial. Lá está, só a trova de Parra se mostra capaz de conciliar contrários. A viagem só fica mais pungente por isso.

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