Prossegue a Universal a ativação de
parte significativa do seu arquivo no que concerne intérpretes de exceção. E se
desta feita não se pode dizer que venha assinalar uma efeméride em particular, tudo
é tão extraordinário em Martha Argerich que sobram invariavelmente razões para
justificar qualquer antologia que lhe seja dedicada. Pode, então, considerar-se
que esta integral de gravações para a DG e para a Philips vem celebrar o 65º
aniversário do primeiro registo da pianista; ou recordar, quiçá, que foi há
seis décadas que venceu a Competição Internacional Chopin; ou, até, que se
passaram 40 anos desde a edição de obras-primas como aquelas em que sujeitava
ao seu encanto o “Gaspard de la Nuit”, de Ravel, ou a “Sonata Nº2” de Chopin; e
que foi exatamente há 30, após um precoce afastamento da atividade de solista,
que se iniciou a publicação de bem-aventuradas parcerias com Kremer e Maisky
(que a conduziriam às sonatas de Beethoven, claro, mas também, e
memoravelmente, às de Bartók, Janácek e Prokofiev). Com Abbado tem um
inolvidável “Concerto para Piano e Orquestra Nº1”, de Tchaikovsky, e com
Kovacevich tem uma “Sonata para Dois Pianos e Percussão”, de Bartók, que lembra
o que o norte-americano disse um dia a seu respeito: “Se Mercúrio tocasse, soaria
como ela”. E a solo, dos “Prelúdios” de Chopin à “Kreisleriana” de Schumann, traz
à memória um depoimento seu à revista “Fono Forum”: “Ninguém sabe o dia de
amanhã. Aliás, eu nem sei o que é que vou estar a fazer daqui a dez minutos.
Por isso não levo nada disto a sério. Menos quando toco piano. Aí fico
completamente possuída.”
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