Monk é um elemento tão inexpugnável
da estética de Schlippenbach que, aqui, mesmo com uma introdução, oito
interlúdios e um epílogo assinados pelo alemão, nunca se dá confundir-se quem
toca o quê. Até porque a perversão de uma leitura que atribuísse a este
programa responsabilidades autorais repartidas, embora correta, despertaria
equívocos de interpretação. Isto é, este disco não trata de atomizar as
referências centrais ao genial norte-americano desaparecido há 30 anos em
proveito de uma linguagem que, dela derivando, se acusou já de estar há mais
tempo preocupada em apagar as suas próprias pegadas. Muito pelo contrário, será
até pela análise do material original – cuja aforística concisão, instabilidade
tonal e forte sentido de estrutura conseguem obliquamente sugerir o que faria
um pianista de stride ou ragtime com as miniaturas de Schoenberg
– que melhor se compreenderá o quanto é já um constituinte do outro. E é essa
tremenda coalescência que se deve celebrar, com as angulares cogitações,
predileções dialetais, deslocadas enfatizações e lacónicas melodias presentes
em ‘Introspection’, ‘Epistrophy’ ou ‘Pannonica’ expostas numa cristalina
esquematização que, no passado, apenas Ran Blake, Giorgio Gaslini ou Franco
D’Andrea terão encarado com tamanha ambiguidade. De facto, tornar maleáveis
figuras rítmicas praticamente extorsionárias ou questionar a impropriedade com
que Monk apresentava os seus temas sem prejudicar a sua frágil elegância
matricial requer escapar ao domínio do compositor. E, talvez até mais neste
caso do que em “Monk’s Casino”, acrescentou
Schlippenbach àquelas harmonias recheadas de dissonância e insinuantes intervalos
um recurso frequentemente delas ausente: a ternura. O que só prova tudo o que
aprendeu com Monk e, de certa forma, o pouco que os outros aprenderam consigo.
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