Quando em 2002 a Strut produziu uma antologia consagrada às gravações de Segun Bucknor – “Poor Man No Get Brother: Assembly & Revolution 1969-1975” – parecia estar a corrigir uma desatenção histórica. Mas hoje, sem vestígios no mercado desse peregrino lançamento, servem os mesmos onze temas de espinha dorsal a uma compilação de dezasseis que desperta uma recepção em tudo semelhante. Em que é que ficamos? Talvez na inevitabilidade de considerar que a história não o quer, não o merece ou, no mínimo, que no que diz respeito à música nigeriana prossegue um caminho de acumulação de factos quando lhe é impossível gerar conhecimento. Oportunamente, “Who Say I Tire” repete a ideia de que há elementos para além de Fela Kuti na génese do afrobeat, que as aventuras de Ginger Baker em Lagos não tiveram exclusivamente consequências para os Air Force e que após a audição de James Brown logo houve quem procurasse tornar-se o ‘soul brother number one and a half’. Nada de novo mas algo que sistematicamente se esquece. Mesmo se – num plano editorial que inclui volumes individuais dedicados a Sir Victor Uwaifo, Fred Fisher, Victor Olaiya ou Orlando Julius – proliferam nas lojas títulos que parecem ter sido criados para mestrados de etnomusicologia ou encomendados para aumentar a infalibilidade das mais obscuras pesquisas no Google: “Nigeria 70: The Definitive Story of 1970’s Funky Lagos”, “Nigeria Special: Modern Highlife, Afro-Sounds and Nigerian Blues 1970-76”, “Nigeria Disco Funk Special: The Sound of the Underground Lagos Dancefloor 1974-79”, “Nigeria Rock Special: Psychedelic Afro-Rock & Jazz Funk in 1970s Nigeria” ou “Lagos Disco Inferno”. Ainda assim, ficará próximo de compreender o que move um Homem quem se deixar contaminar por estes ocasionalmente exemplares exercícios suspensos entre duas ditaduras: a do regime e a do ritmo.
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