Ao serviço da orquestra de Count Basie, que acompanhava então Tony Bennett, Luis Gasca teve a sua dose de interpretações de ‘I Left My Heart in San Francisco’. Mas só anos mais tarde ecoou no seu íntimo essa história de um saudoso coração deixado no alto das colinas. Numa entrevista de 2002 para o site Jazz Review (já depois de ter sido dado como morto na biografia de Carlos Santana escrita por Simon Leng) referia-se assim à cidade californiana: “São Francisco tinha tudo o que eu precisava: mulheres, droga, música… Gastava o dinheiro todo em sexo e cocaína. Além de que era alcoólico, por isso tinha um diabo em cada ombro”. E, no entanto, aí deixou marcas num tempo que não foi só de praias loiras, mulheres douradas e drogas brancas: entre 69 e 72, o seu trompete – entre a poética deriva de Miles Davis e a agressividade harmónica de Freddie Hubbard – marcou discos de Janis Joplin, Santana, Van Morrison ou Bob Weir; uma nota de rodapé que, pela crónica inacessibilidade dos quatro álbuns gravados em nome próprio e em consequência de uma peripatética existência que fez com que durante décadas nada de si se soubesse (hoje, ao menos, tem uma página no Facebook), se confundiu com o essencial da sua produção. Mas basta ouvir “The Little Giant” (Atlantic, 69), “For Those Who Chant” (Blue Thumb, 72) ou “Born To Love You” (Fantasy, 74), nos quais combinou esforços de Herbie Hancock, Joe Henderson, Stanley Clarke, Jack DeJohnette ou Dave Holland, para se compreender que poderia ter sido outro o seu destino. O derradeiro “Collage” (Fantasy, 76), agora reeditado em CD, acentua a impressão numa majestosa sublimação do jazz latino (com arejados arranjos de Don Menza envolvendo Bobby Hutcherson, Patrice Rushen ou Harvey Mason) que se impõe simultaneamente como um adeus ao passado e uma dramática suspensão do futuro.
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