17 de março de 2012

Mallu “Pitanga” (Sony, 2011)

Entre 2007 e 2008, Mallu Magalhães ficou famosa nos meios de difusão tradicionais por se ter, precisamente, tornado um fenómeno de popularidade longe deles. E, entendido como um caso de estudo para as indústrias digitais e tomado como uma parábola mercantilista, o seu disco de estreia foi recebido à luz da sociologia económica e lido sob o prisma da juventude. Jamais citando a precedente precocidade de Dolores Duran, Elis Regina ou Rita Lee, que também subiram ao palco aos 16 anos, o discurso construído em torno da cantora paulista transmitiu-se invariavelmente com o apêndice da adolescência. Em Janeiro de 2009, em entrevista ao Expresso, Mallu dizia: “vivemos obcecados com essa ideia de passagem para o mundo adulto. Mas na arte é completamente idiota nomear alguém de criança, adulto ou adolescente – cada um tem seu tempo”. Nesse momento, a retórica empregue dependia já de outro desenvolvimento recente: a virulenta reacção na imprensa brasileira ao início da sua relação com Marcelo Camelo, 14 anos mais velho. Que o acompanhamento de tão curta carreira surja de tal forma contaminado por dispositivos prontos a dissolver a noção de especificidade individual poderá explicar o impulso ficcional do seu segundo álbum, de finais de 2009, em que dissimulava tendências confessionais num enquadramento estilístico quase arquetipicamente defensivo. “Pitanga”, com uma produção serena e prudente de Camelo, vem agora resolver esses cismas e soa a um ato de libertação e pacificação. Menos constrangido e com uma folgada – e, até agora, inédita – relação com a música popular brasileira, reforça noções de autoria, manifesta uma ambição quase clássica a nível processual e sugere reflexões eminentemente ontológicas, certamente infantis e provavelmente unidimensionais, mas, simplesmente, suas. E não se lhe deve pedir mais.

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