5 de abril de 2014

Beethoven: Emperor; Schumann: Fantasy (Mercury/Deutsche Grammophon, 2014)



Yundi chega a Portugal na reta final de uma digressão de cerca de vinte datas em menos de um mês e, como de costume, dá-se um tumulto feiral à sua passagem, melhor traduzido em atualizações de Twitter, Facebook ou Instagram: há selfies em praças e restaurantes, intermináveis sessões de autógrafos (na banca, após o concerto, vende-se o CD e t-shirts), presenças VIP em inaugurações de butiques e em passadeiras vermelhas rumo a galas de toda a espécie, poses de Estado ao lado de túmidas primeiras-damas e tímidos diplomatas chineses, uma photo-op com Katie Perry ou, por exemplo, a contínua inventariação de uma coleção de jaquetas que evoca os ‘novos românticos’ via o Michael Jackson da fase “Bad”/“Dangerous”. Como sempre, também, pouco se fala de música. E, no caso, da inteligência em combinar a “Fantasia em Dó maior, Op. 17”, de Schumann (escrita com Beethoven em mente), com este “Concerto para Piano nº 5 em Mi bemol maior, Op. 73”, vulgo ‘Imperador’. Infelizmente, a maturidade que, a espaços, o pianista revela junto a esta inexcedível, ainda que de acelerador a fundo, Filarmónica de Berlim comandada por Harding – no eloquente fraseado, em sensíveis gradações e num raro controlo emocional – é contrariada, a solo, por uma visão da peça de Schumann particularmente pueril e corrompida pela mais imoderada extroversão, tudo remetendo para a vexante incoerência, apanágio de espíritos menos equilibrados. [Hoje, às 18h, na sala Suggia da Casa da Música, no Porto, Yundi toca o Op. 17 de Schumann, a “Tarantella” de Liszt, tradicionais chineses e a ‘Appassionata’ de Beethoven]

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