12 de abril de 2014

Vijay Iyer “Mutations” (ECM, 2014)



Por entre inúmeras acoladas e distinções – em que se incluem as categorias que encabeçou na “International Critics Poll” da DownBeat, em 2012, ou, mais recentemente, a inscrição na lista de beneficiários da subvenção “Genius” da MacArthur Foundation –, Vijay Iyer é, desde janeiro, docente em Harvard. Não se estranha, assim, esta estreia na ECM, porventura a mais professoral das editoras, cuja lealdade logo se manifesta em “Mutations”, incoativo registo dos interesses académicos do pianista, sintetizados numa peça titular para piano, eletrónica e quarteto de cordas – de facto, quando comparado com as últimas gravações de Iyer para a Act, o opúsculo inicial desta associação não é nada senão disciplinado. Aqui, de tanto decompor tonalidades associáveis a Feldman, Cage, Tenney, Glass ou, até, a Milhaud – importante pedagogo para muitos destes compositores norte-americanos –, Iyer é prismático, mas suprime qualquer coloração própria, contrariando um implícito caráter de exceção cultural. Possui, também, improváveis limitações idiomáticas e, a espaços, um discurso mais incoerente que elíptico contrasta com a eloquente simplicidade melódica que na sua música se pressente. Entre a exasperação e o encantamento, é como uma extensa e fascinante confissão que omita o pecado: a eletrónica é atmosférica, os acabamentos são negligentes, o formalismo procedimental é praticamente anacrónico, presumíveis extravagâncias rítmicas e harmónicas são apenas triviais. Entre os dez capítulos de “Mutations” há um prólogo e um epílogo ao piano – e a sensação que fica é que Iyer está nisto como um sonâmbulo num passeio, chegando a muitos sítios sem ir realmente a lado nenhum.

Sem comentários:

Enviar um comentário