Primeiro tornaram-se públicas as gravações de João Gilberto em casa de Chico Pereira, depois revelou-se o que, entre amigos, cantava Dolores Duran, e por fim vasculhou-se o baú de um dos primeiros génios da música popular brasileira: Alfredo da Rocha Vianna, aliás Pixinguinha. O que permite concluir que – independentemente do quadro legal – se requalifica em três actos o conceito de arquivo num país pouco dado a honrar o passado. E conseguindo-se, para mais, valorizar testamentos artísticos que se supunham imperturbavelmente acabados. Esta primeira edição da banda-sonora escrita para “Sol Sobre a Lama”, o filme de 1963 de Alex Viany, implica ainda que se olhe para o líder dos Oito Batutas – e criador dos imortais ‘Carinhoso’ e ‘Rosa’ – e reconheça temperança na escrita para sopros (flauta, clarinete, tuba) e elegância na adaptação de ritmos afro-brasileiros a peças próximas da flexibilidade tonal de Villa-Lobos ou Milhaud. Arranca numa quase sinfónica ‘Abertura’ – entre Stravinsky e o Jobim de ‘Sinfonia da Alvorada’ – e termina numa elegia para três violinos e contrabaixo que sugere um Wagner equatorial. O resto é um festim de choros, maxixes e sambas, com primorosas canções (letras de Vinicius de Moraes) aqui regravadas por Elza Soares, CéU ou Jards Macalé. ‘Samba Fúnebre’ traz um dueto de Mariana de Moraes e Marcelo Vianna, netos dos compositores. Um pequeno requinte.
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