Não seria obrigatório começar pelo fim, mas a evocação da morte de Joe Cuba em Fevereiro último, aos 77 anos, servirá para reforçar a perspectiva de que a História por vezes depende de figuras de transição. Aproveitou então o El Barrio – o bairro hispânico de Nova Iorque – para lançar um suspiro final por aquele que, há quatro décadas, aí espalhou uma efémera febre musical ao gravar ‘Bang! Bang!’, o primeiro boogaloo com vendas superiores ao milhão. Um dos que, como tantos outros, mais não fez do que tentar agradar a uma audiência de “morenos americanos do Harlem” – indiferente a mambos e cha cha chas – desenvolvendo um paradigma baseado tanto no vernáculo afro-cubano quanto no funk e no soul. Modelo que se alastrou por toda a América Latina, e pelo Mundo, e que alimentou pistas de dança até ao preciso instante em que os Fania All-Stars, em 1972, foram filmados para “Nuestra Cosa” inaugurando a Era da salsa. Aqui, num terceiro volume resgatado a arquivos de editoras peruanas entre 1966 e 1970, a Vampisoul comprova o seu indefinível alcance e confirma que aquilo que o académico Juan Flores, em “From Bomba to Hip-Hop: Puerto Rican Culture and Latino Identity”, apelidou de uma “celebração colectiva e inclusiva absolutamente nuyorican”, na realidade não se restringiu à Grande Maçã. E identifica um espaço de modernidade com origem em interposta experiência de emigração. Porque também num Peru dado ao “Indianismo” – e à beira da asfixia ditatorial – correspondeu o estilo a aspirações contra-culturais, psicadélicas e libertárias, com as charangas de Lucho Macedo, Alfredo Linares, Coco Lagos, Compay Quinto, Al Valdez, Tito Chicoma ou Nilo Espinosa (nos Hilton’s e com os Bossa 70) em frenesi estético, político e sexual, carregado da mesma energia explosiva empregue a norte por Ray Barretto, Mongo Santamaria ou Eddie Palmieri.
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