Antes das digestivas cançonetas em horário nobre, do exercício pronto-a-ouvir da série “Aquarela Brasileira” ou de sublinhar cochichos românticos nas novelas das oito, foi numa mão cheia de álbuns inicial que Emílio Santiago concentrou repertório ajustado à grandeza da sua voz. É um facto que o seu primeiro LP, de 1975, é hoje visto como um manifesto geracional, e que “Brasileiríssimas”, de 1976, o qualificava já – até no título – como um superlativo absoluto sintético para a verdade musical brasileira, mas de pouco serviriam os axiomas se não tivesse, logo a abrir 1977, gravado este programático “Feito Para Ouvir” com arranjos para quinteto de jazz de Laércio de Freitas. Porque será relativa ao génio a sua decisão de, com 21 anos, olhar para trás e recuperar a idiomática subtileza romântica de Dick Farney, Johnny Alf ou Pery Ribeiro como se, num fim de noite, estivesse de volta aos bares em que se tinha estreado a cantar o fim do amor. Durou um instante: meses depois, com “Comigo É Assim”, estaria novamente com os olhos postos no futuro. Mas foi nesta insuperável obra-prima que – a par de Nana Caymmi em “Nana” ou de João Gilberto em “Amoroso” – tornou exacta a música com que os outros apenas sonhavam.
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