As armas há muito que se calaram. E na capa do novo álbum, em composição semelhante à do grupo no último “Aman Iman”, surgem agora quatro sorridentes meninos anunciando um rejuvenescimento. Também as canções – gravadas em Tessalit, a aldeia e oásis do Sara em que assentaram estes antigos caravaneiros – falam de tempos de mudança. E claro que tudo efectivamente se alterou desde que a banda tuaregue chegou aos palcos internacionais – o actual nomadismo é do tipo frequent flyer. E a prova da sua universalidade – como se discute no DVD – é serem muitas coisas para tantas pessoas diferentes. Aqui, como o Dylan de “Together Through Life”, produzem um manifesto de idiossincrasia a partir de práticas musicais muito simples e reformulam de forma essencial o que aos olhos de alguns se afigurará acessório a quatro décadas de blues-rock. Isto é, no fundo, está tudo na mesma e não é desta ainda que ultrapassam a sua biografia. Mas só não se surpreenda quem – no acaso de começar a ouvir o disco por uns derradeiros minutos em que é subitamente o deserto que toca a banda – nele encontrar a memória dos Cluster, na altura em que os alemães reinventavam paisagens para uma desiludida natureza. Se até agora os Tinariwen se fixaram no contínuo flamejar da fogueira, parece ter chegado a hora de seguir as fagulhas que o vento espalha pela noite.
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