Dia 8 de Fevereiro surgiu no mural da banda no Facebook o seguinte depoimento dos Tinariwen: “De forma a evitar os combates entre rebeldes e o exército maliano, muitos tiveram de abandonar as suas aldeias desde o início da insurreição. Estamos escondidos no mato há alguns dias com muitas mulheres, crianças e idosos. Há gente com fome e sofremos imenso com o frio. As condições são duras mas estamo-nos a aguentar”. A missiva não surpreende embora certamente desperte perplexidade naqueles que há menos de um mês acompanharam na mesma região a edição deste ano do Festival do Deserto, marcada por uma curta aparição de Bono – histriónico em palco, condescendente na imprensa – ao lado, precisamente, de membros da banda tuaregue. Entretanto, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados relata o exílio forçado de cerca de 20.000 pessoas (embora a Cruz Vermelha Internacional fale em 30.000) para o Níger, Mauritânia ou Burkina Faso e alerta para uma iminente crise humanitária. Samba Touré, que também esteve no festival, acompanha há anos a indeterminação desse povo de que é vizinho. Em Timbuktu, ao lado de Ali Farka Touré, cantou em songhai, peul, bambara e tamashek (a língua berbere) e também este seu último álbum se revela uma imperturbável mensagem de reconciliação. Aliás, é perfeitamente assintomático neste contexto de guerrilha, pois, face à escusada problematização étnica do conflito, não se encontra semelhante clareza de ideias e presença de espírito no discurso político das partes envolvidas. Por isso, este seu sereno manifesto deve ser entendido como a materialização de uma ideia para o Mali, e não, conforme o oportunista título e a previsível construção da imprensa internacional, mais um meditativo acto de espeleologia em torno do blues. Porque aqui louva-se a esperança. E pensa-se no amanhã.
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