Olhavam-se os astros e rasgavam-se os céus. A União Soviética ia para um lado em busca de Vénus e os EUA para outro à procura de Marte. Testava-se o Concorde e pelos gira-discos rodava um Zeppelin. Os Beatles tocavam pela última vez em público no telhado da Apple e astronautas pisavam a Lua, mas com 69 a acabar matava-se pelas ruas e o próprio planeta parecia esvair-se. De Lima, no Peru, os Traffic Sound suspiravam ‘Tell the World I’m Alive’ sabendo que ninguém os ouviria – arrancava uma nova década e o regime militar de Juan Velasco Alvarado aumentava a repressão e considerava o rock uma manifestação imperialista, empurrando-o para a clandestinidade. Assim, este belo artefacto de um mundo perdido, que só arquivistas na órbita da música progressiva souberam manusear, entende-se hoje – tal como o que do período se ouve no zambiano zam-rock – enquanto um grito abafado; uma residual demonstração de que também na América do Sul se compreendia o que em Canterbury faziam Caravan ou Kevin Ayers e na Califórnia os Byrds e os Love combinada com a tristeza de não se estar nem num sítio nem noutro. Talvez por isso tenham os seus membros (Manuel Sanguinetti, Willy Barclay, Freddy Rizo-Patrón, Willy Thorne, Luis Nevares e Jean Pierre Magnet, vindos dos pioneiros Hang Ten’s e Mads) mergulhado na cultura andina como se esta lhes fosse estranha, sugerindo chegar a uma ‘Meshkalina’ (incluída já pela Vampisoul no primeiro volume de “Back to Peru”) através dos Doors e de Aldous Huxley e não, como agora facilmente se conclui, pela tomada de consciência de que só com as armas que lhes foram dadas conseguiriam lutar. São o que divide o antes (Shain’s, York’s) e o depois (Laghonia, El Humo, El Polen) no rock peruano e em 71 lançariam um último disco, caindo, com o seu fim, mais a noite no país. Mas “Virgin” merece viver para sempre.
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