Anonymous 4
Foi há vinte anos, num “Love’s
Illusion” que concedia predominância ao mundano, que o Anonymous 4 apresentou
um primeiro conjunto de motetos encontrados no Códice de Montpellier (c. 1300).
Aliás, a inesperada exceção à secularidade surgia no único verso que colocava
sob invocação a figura da Virgem Maria. Desde então, dizem, que desejam “produzir
um programa que explore a justaposição dos temas de amor cortesão e de devoção
mariana”. Em latim, francês antigo ou poliglotas, os textos são velhos como as
estações, trazendo ecos de poesia trovadoresca e litúrgica mas revelando a cada
instante o mesmo ardor, tecendo-se à sombra do ciúme ou da timidez mas quase
sempre tingidos pelas flores de maio e enlevados pelo chilrear dos pássaros. Da
Maria imaculada até à Maria que vai com as outras, diz-se: “É como o botão da
rosa e uma flor entre as damas” (‘A la clarte qui tout’), “Tão bela que por esse
motivo se ilumina e resplandece o Paraíso” (‘De la gloriouse fenix’) ou “E
quando me observa com os seus olhos verde-cinza, mata-me” (‘Que ferai biau sire’).
Em nome da ambiguidade, e pelo conteúdo afim, justifica-se recuperar outro
registo do quarteto de cantoras há pouco reeditado: um “The Second Circle” que,
dedicado às baladas de Francesco Landini e organizado sob a égide de Dante e do
stilnovismo, acompanha a expansiva
aplicação em Itália dos fundamentos da ars
nova num quadro de amor possível e falhado e, lá está, do inferno que se
prefere quando ele é impossível.
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