O subtítulo fala de efervescência. Mas podia bem ter recuperado o termo – négritude – que melhor distingue o essencial da acção cultural senegalesa na década de 70. Porque o ideal de Léopold Senghor – eleito Presidente em 1960 – alastrou-se por todas as artes até, na música, encontrar plena concretização. Isto é, à exploração pelas bandas de Dakar da fertilidade rítmica afro-cubana, da virtude plástica do jazz ou da força expressiva da chanson, acrescentaram-se elementos tradicionais prontos a explodir nas pistas de dança. O que, numa versão mais flexível das authenticité zairense ou guineense, conduziu a uma renovação estética sem constrangimentos geográficos num período de exaltação independentista. Trata-se, por isso, de seguir as assimilações das pioneiras Star Band de Dakar, Star Number One (partindo da rumba rumo ao folclore wolof) ou Orchestra Baobab (entre o cha cha cha e o funk derivado de James Brown, que tocou em Dakar em 1975), e, sobretudo, valorizar a libertária acção de Xalam, Diarama de Saint-Louis ou Watto Siita, o mandingo beat de Guelawar ou o electrizante mbalax da Étoile de Dakar. A selecção – que inclui uma mão cheia de inéditos em CD – é do produtor Ibrahima Sylla, agora empenhado em recuperar memórias que ele próprio ajudou a enterrar.
Sem comentários:
Enviar um comentário