Se é verdade que a vida são dois dias, narram-se agora os efeitos que no segundo tiveram as acções do primeiro. Isto é, a consequência na central MPB da suburbana versão-soul de União Black, Miguel de Deus, Copa 7, Toni Tornado ou Banda Black Rio. Mas se esses, reunidos por DJ Cliffy em 2002, tinham uma relação factual com esta história, o mesmo não se poderá dizer dos por ora reunidos. O que, por mais paradoxal que pareça, e independentemente de ter disso consciência ou não, só valoriza os instintos do inglês. Porque melhor reflecte o Brasil dos anos 70 e o ecletismo genético do movimento. E se tudo nasceu na rádio, bailes e colectâneas promovidas por Big Boy, Ademir Lemos e Mr. Funky Santos ou através da acção de Equipes de Som como Furacão 2000, Cashbox e a Soul Grand Prix de Dom Filó, não haverá mais definitiva prova quanto à absorção pela cultura popular brasileira da música negra norte-americana que a inclusão de Stylistics, Marvin Gaye, Stevie Wonder ou Jackson 5 na banda-sonora de telenovelas como “Ossos do Barão”, “O Bem-Amado” ou “Selva de Pedra”. Aqui, nota máxima para a enxuta ‘Coluna do Meio’ (Zeca do Trombone e Roberto Sax, 1976), a caprichosamente rossiniana (de Diana Ross) ‘Faz Tanto Tempo’ (Renata Lu, 1971), a síncope de Donato em ‘Bananeira’ (Emílio Santiago, 1975), o ebâneo suingue de ‘Supermarket’ (Pete Dunaway, 1974), o samba em fanicos de ‘Bobeira’ (Edson Frederico, 1975) e a ébria cuíca no proto-rap de ‘Poema Rítmico do Malandro’ (Zito Righi com Sonia Santos, 1969). Continua a faltar: Tim Maia. E, no mundo dos inéditos em CD, ficam os pedidos para o terceiro volume: António Adolfo, Eduardo Araújo e Silvinha, Celeste, Devaneios, Don Beto, Cláudia, Paulo Diniz, Erlon Chaves ou Waltel Branco.
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