De volta às trevas. E ao território em que se renovam. Ainda que, por uma vez, recordando instantes de esperança. Porque em meados dos anos 50 aí se contrariou a única evidência de séculos: a expurgação da vida humana. E na margem do rio Congo – em Léopoldville (actual Kinshasa) – mais do que duplicaram as almas. Por isso, relativizando (pois logo chegaria Mobutu), se poderá hoje falar de prosperidade. E desse tempo em que à cidade – vindos do campo, de países vizinhos ou distantes – acorreram com as suas canções milhares de emigrantes como se efectivamente tivesse chegado o amanhã. Evoca-se assim o tumulto que então se erguia fora da branca ville colonial – para lá do chamado cordon sanitaire constituído pelo Jardim Zoológico e Campo de Golfe – e que pela noite dentro crescia por bares e salões de baile da negra cité indigène. O momento preciso em que, também na rádio Congolia, artistas locais ultrapassavam o sucesso de Louis Armstrong, Trio Matamoros ou Sexteto Habanero. Tudo enquanto num passo de dança se discutia independência e liberdade. Sublinhando-o, o que se ouve nestas gravações é o som de um povo que se inventa, modernizando-se à força de não se querer deixar arrastar pela ingratidão da sua própria História. Conhece-se o que no período fizeram pioneiros da música congolesa como Henri Bowane, Joseph Kabasele, Nico Kasanda, Vicky Longomba ou Franco, aqui ausentes. E um ano mais tarde já African Jazz e O.K. Jazz precipitariam a chegada de uma nova era. Mas destes – como Adikwa Depala ou Laurent Lomande, obscuros e absolutamente inéditos em CD – nada se sabia e o mais importante se passa agora a saber: ao que soam os mortos quando regressam à vida.
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