A apresentação pela editora é concisa: o disco A é composto por gravações dos anos 20 com origem no Egipto, Irão, Iraque e Turquia; o disco B, em resposta, inclui novas encomendas. O propósito, no entanto, é indecifrável e permanecerá obscuro. Porque dele resulta um paradoxo temporal em que é o material de arquivo a revelar-se perfeitamente contemporâneo e o incumbido a manifestar-se datado. E na origem – nestas 20 peças de enlevo mediterrânico vindas do pó – reconhece-se, num exaltante desfilar cordofónico entregue às modulações e progressões de escala próprias do taqasim (o segmento de improvisação na música tradicional árabe), um extático virtuosismo que merecia mais que o pasticho. Mas é filosoficamente apropriado que o embate com o Ocidente corresponda a uma reflexão sobre o Tempo e o seu fim. Pois é na relação de um solo de alaúde de há um século com o produzido hoje que, aqui e agora, se denuncia a fabricação da História. Ou, por outro lado, se confirma a “sobrestima do Oriente” diagnosticada por Edward Said. Ainda assim, no ponto de chegada, ressalve-se Sir Richard Bishop através das oliveiras, Charlie Parr em arabescos pelos Apalaches, Steffen Basho-Junghans a evocar John McLaughlin e Paul Metzger a lembrar Sandy Bull.
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