Em “In Griot Time”, a crónica sobre os sete meses passados com Djelimady Tounkara no Mali, Banning Eyre atribui a Ali Farka Touré uma espantosa afirmação: “podemos ensinar-lhes [a John Lee Hooker e demais bluesmen] melodias africanas durante dez anos sem repetir uma única nota”. Ignorando a fátua soberba do guitarrista de Niafunké, a frase firma África – por tratar das origens do Mundo – enquanto inesgotável reservatório de invenção musical mas também como um diverso território infinitamente ignorado. E talvez seja importante dizê-lo. Porque hoje, a ávida redescoberta da sua mais singular música popular nem sempre traduz as circunstâncias da sua criação nem, muito menos, lhe permite reconhecer a categórica complexidade com que sempre se impôs. Por isso, em boa hora chega o terceiro volume da série dedicada àqueles que, em causa própria, promulgaram uma estética de lasso sincretismo apontado a uma cosmopolita pista de dança (o bar do hotel da estação ferroviária de Bamako), capaz de assimilar afrobeat, rumba, soul, jazz, tango, highlife ou bolero na tradição mandinga e nas narrativas dos griôs. 18 canções gravadas entre 1973 e 1983, e mais de 120 devorantes e indomáveis minutos de Tounkara, Salif Keita, Mory Kanté ou Tidiani Koné a comprovar a asserção de Touré.
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