É da desilusão com as origens que trata quem longe de casa procura um sentido para a vida. Disso e, neste particular, do abraçar do antigo impulso que identifica o regresso a África como uma cura espiritual. E num tempo em que a armadilha socrática dos motores de pesquisa apaga mais realidade do que a que revela, não terá melhor missão o activista que ruma ao Velho Continente como quem remenda um coração partido. Assim chegou a Vampi Soul à Nigéria, a Soundway ao Gana, a Oriki ao Mali, a Sublime Frequencies ao Sara Ocidental ou a Analog Africa ao Benim. Numa acção editorial capaz de restabelecer a figura do DJ ao serviço da clarividência estética. E é apropriado que se imponha agora esta antologia que – evocando a obra de Gnonnas Pedro, El Rego, Honoré Avolonto e Antoine Dougbé gravada entre 1969 e 1981 com bandas como Poly-Rythmo, Black Santiago, Commandos ou Panchos – parte da região que assombrou as encruzilhadas da mais significativa música popular do século XX. Porque do Benim, com os princípios do vodun, seguiram os sons que se espalhariam pelo Delta do Mississippi na errância de Robert Johnson e nos ecos do primeiro jazz, mais tarde relembrados nas receitas de Dr. John, Jimi Hendrix ou Miles Davis (“Bitches Brew”). Aqui, testemunha-se o impacto dessa descoberta – também graças à popularidade de James Brown – numa produção local que havia já assimilado o highlife, o juju, o afro beat e a rumba congolesa. Ou seja, o funk enquanto abanão estrutural naquilo que pela vizinhança faziam Orchestra Baobab, King Sunny Ade, Super Rail Band, Ambassadeurs do Motel, Fela Kuti ou Franco. E, na fantasia de uns Meters entregues ao jazz etíope, dos Santana perdidos em Memphis ou de Ray Barretto ao lado de Sam Cooke, a própria matéria que renova o sonho.
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